quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Alfred Stieglitz (1864-1946)


Rui Nunes

Imensa, esta gente reconduz
a catástrofe ao ruído de folha sobre folha,
mas a vingança dos mortos é uma facada mergulhada na terra, o gume
iluminado pela raiz. (p. 10)

[...]só a ordem sincopada tece, para trás e para a frente, a exactidão da queda. Resta-nos uma cinza aérea, uma névoa suja, o som das nozes a caírem nas folhas podres. (pp.8-9)

excertos retirados do artigo de Manuel de Freitas "Lugares de Cinza" in Cão Celeste nº4, Novembro 2013

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Descubra as diferenças


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Feira de produtos da horta

A turma do 11º J associou-se à horta da ESVN e, uma vez por mês, monta bancada à entrada da sala de trabalho dos professores e vende os produtos disponíveis (50% do total das vendas realizadas pela turma é doado ao projecto bengaleiro. A outra metade é reinvestida na horta).

A próxima Feira é dia 17 de Janeiro.






Notar o verde!



O nosso agradecimento

à professora Maria José que, enquanto esteve na ESVN, foi, às quintas-feiras, trabalhar na horta sem pedir nada em troca.
Bem haja!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Abraham Gragera


O cheiro a laranja nas gotas de frio,
sob o sol do inverno.

O sabor da terra ao levantar-me.

in arquivodecabeceira.blogspot.pt [Trad. Inês Dias]

domingo, 5 de janeiro de 2014

Jeff Rubin


Agustina Bessa-Luís

Uma floresta em Heidelberg não é o que pensam. Não se parece com uma floresta, mas com alguma coisa de extinto  e que só pertence aos nossos sonhos. Eu imagino que na planície castelhana, onde viviam as tartarugas gigantes antes do aquecimento da terra, havia aquele silêncio que fazia perceptível a queda duma gota de chuva no ar limpo e onde ondulavam as folhas mortas. Levavam uma infinidade de tempo a cair no chão e eram manobradas pelo vento como as velas dum barco.
A casa de Dominga, um chalet grande e rasgado de muitas janelas, encontrava-se dentro dum pequeno parque sempre húmido e prestes a cair em decomposição. Muitas das casas da floresta estavam encostadas à ravina onde apareciam as corças com ar que lhes ficara do tempo das caçadas, um ar delirante de medo que lhes fazia tremer as orelhas. Mas a casa de Dominga era mais do tipo heráldico, com um portão de ferro que, devido à ferrugem, nunca se fechava.

Agustina Bessa-Luís, Dominga, Guimarães, 2000, pp. 10-11 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Jorge Luis Borges (1899-1986)

Adam Cast Forth

Houve um Jardim ou tal Jardim foi sonho?
Na vaga luz me tenho perguntado
Quase como um consolo, se o passado
De que este Adão, já mísero, foi dono,
Não foi mais do que mágica impostura
Desse Deus que sonhei. É impreciso
Na memória o brilhante Paraíso,
Mas eu sei que ele existe e que perdura,
Embora não para mim. A dura terra
É o meu castigo e a incestuosa guerra
De Cains e Abéis e sua cria.
E, no entanto, é muito ter amado,
Haver sido feliz e ter tocado
O vivente Jardim, mesmo um só dia.

Jorge Luis Borges, Obras Completas 1952-1972, Editorial Teorema, 1998, p. 312

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Casa e jardim de Enid Blyton



SERAPHINE - Trailer

Quem não tem...inventa! (6)


Daphne du Maurier (1907-1989)

Estávamos numa encosta do morro, e, à nossa frente, até ao vale, ladeando um riacho, desenrolava-se uma passagem estreita. Nada de árvores sombrias, nem silvas emaranhadas; apenas uma fileira de azáleas à beira da passagem, e também rododendros, não cor de sangue como os gigantes lá de cima, mas brancos, cor de salmão, dourados, criações de beleza e graça.
O ar estava impregnado daquele perfume doce e intoxicante; pareceu-me que aquela essência se misturava com as águas sussurrantes do riacho, se integrava na chuva que caía e no musgo húmido que pisávamos. Não se ouvia som algum, a não ser o murmúrio do regato e o sussurro da chuva lenta. (...)
Nem o céu, agora sombrio e carrancudo, nem a chuva insistente, perturbavam a suave quietude do vale; a chuva e o riacho pareciam confundir-se; e, harmonizados com ambos, vinham no ar húmido as notas líquidas do canto do melro. Eu afastava, ao passar as frondes de azáleas, tão juntas umas das outras elas cresciam, bordejando o atalho; das pétalas, caíam pequenas gotas de água nas minhas mãos. Muitas pétalas estavam caídas no chão, escuras, molhadas, mas conservando ainda a fragrância; e senti também outros perfumes mais antigos e ricos: o cheiro profundo do musgo e da terra, dos fetos, das raízes das árvores entrançadas no solo.

Daphne du Maurier, Rebeca, Edição «Livros do Brasil» Lisboa, s/ data, pp. 103-104

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Truman Capote (1924-1984)

Quando é que pela primeira vez ouvi falar da harpa das ervas? Muito antes do Outono em que nos instalámos na árvore da China. Portanto, num Outono anterior. E foi com certeza Dolly quem mo disse, mais ninguém seria capaz de dar esta designação: uma harpa de ervas.
Saindo da cidade pelo caminho da igreja, depressa se alcança o outeiro de lousas brancas e de flores bronzeadas: é o cemitério baptista. Está ali enterrada a nossa gente: os Talbos, os Fenwicks. Minha mãe jaz perto do meu pai, e as sepulturas dos parentes, vinte ou mais, espalham-se em volta como raízes estendidas de uma árvore petrificada. Abaixo da colina existe um campo de certa planta índia que muda de cor com as estações; ide vê-la nos fins de Setembro, quando se apresenta rubra como o pôr do Sol, e as sombras escarlates, semelhantes a labaredas, oscilam sobre ela, e os ventos outonais sopram nas folhas secas entoando música de suspiros humanos: uma harpa de vozes.
No extremo do campo principia o negrume de River Woods. Devia ter sido num desses dias de Setembro, quando lá nos encontrávamos a colher raízes, que Dolly observou: "Ouves? É a harpa das ervas, sempre a contar histórias: conhece a de cada pessoa da colina, de todos quantos aqui viveram e, depois de morrermos, contará também a nossa."

Truman Capote, A Harpa de Ervas, Sextante Editora, 2011