terça-feira, 14 de maio de 2013

Mário Cesariny (1923-2006)

Três encontros marcados com a História (Poema lido nos Paços do Concelho, Câmara Municipal de Lisboa, por altura do encerramento dos encontros «Poesia em Lisboa '98», sábado, 10 de Outubro, aceitando o desafio posto sobre a mesa.)

[CRISE INAUGURAL]

Imagina que eu nunca te toquei
e o campo até ao horizonte possível
explode em violeta e azul, dedos florescem
para as delícias do tacto num vibrátil
orvalho. Imagina
que eu parti e o ar impregnado de mim
queima; ou o horizonte se tornou num duvidoso pousio,
retráctil, sem gosto nem cheiro, apesar de os lagos
a si atraírem o voo predador de fulminantes aves, e o receio
seca a boca. Imagina esse género de pânico:
flores envolvidas ao contrário, tu: solitária, imagina
o Mundo cego. Imagina que me resguardarei
dentro das minhas próprias veias
no esquecimento de tal ausência a brotar
em tons rubros, borbotões sobre ti. O campo,
o campo, o campo, o campo...

(...)

Paulo da Costa Domingos, Judicearias - o álbum das Glórias, frenesi, 2000 



Sem comentários:

Enviar um comentário