sábado, 29 de março de 2014

José Tolentino Mendonça

"Primaverar
 (...) Tem toda a razão a sentença de Lao Tsé: «Quando ingressam na vida/os homens são tenros e fracos;/ quando morrem , /são secos e duros./ Por isso, os duros e fortes/ são companheiros da morte, / e os tenros e frágeis/ são companheiros da vida." O nosso juízo de arrumação e remate (e as idealizações que projetamos a esse respeito) é enganador, mais não seja porque a vida é viva, florescente, é uma sucessão infinda de começos. Desde que nascemos estamos não só prontos para morrer, mas estamos sobretudo preparados para nascer, as vezes que forem precisas. Primaverar é persistir numa atitude de hospitalidade em relação à vida. Ao lado do previsto, irrompe o imprevísivel que precisamos aprender a acolher. Misturado com aquilo que escolhemos, chega-nos o que não escolhemos e que temos, na mesma, de viver (...)"

in "que coisa são as nuvens", Expresso, 22 de Março de 2014

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