quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Robert Rich «The Rainforest»

Papoila

Atributo de Hipno, personificação do Sono

Birds-of-Paradise

Tonino Guerra

A POESIA MAIS BELA

 Lá para os lados de Torre Pedrera, um poeta de província, na tarde de 14 de Julho de 1969, adormeceu numa praia. Sonhou que Dante lhe mostrava o seu poema mais belo.

Sou um homem solitário
como uma árvore
dentro de uma árvore sentado

Era um poema que nunca tinha escrito.

Tonino Guerra, Histórias para uma Noite de Calmaria, Assírio & Alvim, 2002, p. 49


Lucien Clergue

'L'eau', 1960

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Luiza Neto Jorge (1939-1989)

A MAGNÓLIA

 A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpado
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu esplendor.

Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -

necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.

A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,

um mínimo entre magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.


Luiza Neto Jorge, Poesia, Assírio & Alvim, 1993, p. 137

Angus & Julia Stone «Red Berries»

Tonino Guerra (1920-2012)


  9.
A CEREJEIRA EM FLOR

O camponês afeiçoou-se a uma cerejeira desde que sua mulher faleceu. Todas as manhãs a visitava, afagando o seu tronco. No mês em que o camponês esteve de cama, com bronquite, também a cerejeira adoeceu. Depois levantou-se e voltou a acariciá-la e a falar-lhe e, rapidamente, a cerejeira de mil folhas enfeitou seus ramos.
Um dia, no mercado, ao comprar uma foice, o camponês sentiu um irresistível desejo de regressar aos seus campos. Parecia-lhe que a cerejeira precisava de si. Encontrou-a toda florida, sorrindo para ele.
Sentou-se, então sob a árvore, com as costas apoiadas no tronco e, de improviso, sobre o corpo do camponês, choveram todas as pétalas da cerejeira em flor.

Tonino Guerra, Histórias para uma Noite de Calmaria, Assírio & Alvim, 2002, p. 21

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Jun Miyake, «Alviverde» (2008)

Geranium nodosum L.


Agustina Bessa-Luís


Os jovens tinham que crescer como juncos, directos e leves, naquele denso arvoredo de velhos, egoístas, pesados de pequenas infâmias circulares, como as que envolvem o cálculo da vida em comum e as renúncias que a idade vai talhando, executando na alma uma escultura cheia de vazios, como as de Moore. Gigantesca estátua de solidão, esburacada aqui e ali, como se nela faltasse a gratidão ou o artigo máximo de espaço vital, que é o amor.

Agustina Bessa-Luís, O Mosteiro, Guimarães, 1995, p. 105

Natureza morta VIII

Shana and Robert ParkeHarrison

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Liu Zong-yuán (775-819)

HISTÓRIA DO PLANTADOR DE ÁRVORES GUÓ CAMELO

Era o Guó Camelo. Não se sabia qual o seu nome original. Como teve raquitismo, passou a caminhar de tal modo curvado que parecia um camelo. Era essa a razão por que todos os seus conterrâneos o chamavam Camelo. Ao ser assim chamado, porém, ele comentava: «É isso mesmo, assenta-me bem.» E nunca mais mencionara o seu nome original, passando a chamar-se a si próprio Guó Camelo.
A sua aldeia era Feng Lè-xiang, a oeste de Cháng'an. A sua actividade era plantar árvores e, em Cháng'an, todas as famílias nobres e ricas desejavam ter árvores por ele plantadas e os vendedores de fruta disputavam entre si para o contratar.
Ainda que sofressem transplantações as árvores do Camelo não morriam. Pelo contrário, cresciam cada vez mais e tornavam-se cada vez mais frondosas, dando fruta mais cedo e em maior quantidade. E, muito embora os outros plantadores o espreitassem com inveja e o imitassem, eram incapazes de o igualar.
Um dia, alguém lhe perguntou as causas desta situação e ele respondeu: «Não é o Camelo quem pode dar vida às árvores nem quem as pode multiplicar. Tudo quanto pode fazer é agir de acordo com a natureza das árvores e satisfazê-las segundo as suas necessidades.
«E quanto a plantar árvores, alguns conselhos: o melhor é deixar as raízes expandirem-se à vontade, Também é melhor tornar a terra bem plana, sem a substituir por outra e calcá-la até ficar compacta. Assim fazendo, uma vez plantadas, é desnecessário voltar a tocar-lhes e a preocuparmo-nos com o seu crescimento. Ao transplantar, há que tratar das raízes como se fossem nossos filhos e, depois, abandoná-las para sempre. Só deste modo a sua natureza será cumprida e o seu carácter levado a bom termo.
«Como se vê, tudo quanto faço é não as contrariar e deixá-las crescer à vontade. (...)
O inquiridor perguntou: «Será possível transpor os teus métodos para a governação?»
O Camelo respondeu: «Apenas sei plantar árvores. A governação não me compete. Todavia, vivo na aldeia e vejo que os governantes gostam de dar muitas e minuciosas ordens. Parece que se preocupam muito com o povo mas acabam por provocar desastres. De manhã à noite, vêem-se os seus funcionários a gritar: «Os oficiais ordenam que se despachem com o cultivo da terra. Aconselham-vos a plantar e a apressar as colheitas. Cozam já os casulos da seda, enrolem os novelos, teçam e fiem o mais depressa possível. E cuidem bem dos vossos bebés e alimentem as galinhas e os leitões como deve ser!» E tocam os tambores para reunir e fazem soar as taramelas para convocar os aldeões.
«Nós, os humildes, mesmo que interrompêssemos o jantar e o pequeno-almoço para os atender, nem assim arranjaríamos tempo para atender às suas inúmeras solicitações. Deste modo, como pode a nossa vida e a dos nossos descendentes ter paz e prosperar? Pelo contrário, andamos doentes e enfraquecidos. (...)
O inquiridor comentou, satisfeito: « Ora que bom! Perguntei como fazer crescer árvores e consegui saber como fazer crescer os homens!»

O Rosto do Vento Leste, Assírio & Alvim, 1993, pp. 57-61


Mandrágora: uma planta "humana" e "mágica", lendária e com história

Manuscrito de Dioscórides
por Renata Silva


A mandrágora, planta que tem várias espécies (...), pertence à família botânica Solanaceae, é conhecida na história de várias civilizações por diversos nomes. A sua nomeclatura foi evoluindo ao longo dos anos, até que o nome científico que conhecemos hoje – Mandragora officinarum L. – foi dado pelo botânico sueco Carl von Linné (em Português, Carlos Lineu), que criou a chamada nomenclatura binomial.
O nome mais abrangente desta planta, de acordo com o trabalho de Carla Lixa, provém do inglês, “mandrake”, ou seja, por um lado homem, devido à raiz que parece ter uma forma humana, por outro o “drake”, derivado de dragão, que faz alusão aos poderes mágicos.
Mandrágora e os efeitos alucinógenios
Acreditava-se que a mandrágora tinha poderes mágicos, tendo sido associada muitas vezes a rituais de bruxaria, e que servia como tratamento, por exemplo, para a infertilidade. Ao longo de vários séculos, autores clássicos, como Sócrates, Demóstenes, Macróbio e Teodoreto, escreveram sobre as propriedades soníferas e anestésicas desta planta.
A mandrágora foi considerada por várias civilizações como tendo propriedades medicinais, narcóticas e afrodisíacas, segundo nos conta Carla Lixa. A doutoranda revela ainda que hoje em dia existem vários estudos que fundamentam a presença de elementos químicos  alcaloídes  que concedem propriedades alucinogénias à mandragora officinarum L.  De acordo com Rubim Almeida, docente de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, consultado pelo Ciência 2.0, todas as mandrágoras "contêm alcaloídes (atropina, escopolamina, etc) que provocam delírios e outros efeitos hipnóticos e depressivos que podem causar muitos outros sintomas como bradicardia, delírios, vómitos e morte".
“De certo modo a mandrágora começa a surgir como uma planta associada a tratamentos. Antigamente, transpunha-se a forma da planta para aquilo que ela tratava, se tinha a forma de rim, tratava os rins, como a mandrágora era a planta que tinha uma raiz de forma humana, então achavam que curava tudo”, explica Carla Lixa. 
“A planta lançava um grito que enlouquecia aquele que o ouvisse”
Teofrasto, filósofo grego que escreveu o primeiro tratado sobre plantas, contou, no livro "Enquiry Into Plants II" a história da lenda das mandrágoras que passamos a citar: “O herborista só o poderia fazer à noite. Primeiro, teria de se inclinar em direção do sol poente e homenagear as divindades infernais, isto é, as forças telúricas. O produtor deveria desenhar três círculos ao redor da planta com a sua espada de ferro virgem. Então, de frente para o oeste para evitar feitiços, ele deveria cortar porções das raízes secundárias. Em seguida, não deveria proceder pessoalmente à colheita pois, no momento em que era arrancada, a planta lançava um grito que matava ou enlouquecia aquele que o ouvisse. Por isso, depois de ter cuidadosamente tapado os ouvidos com cera, o herborista amarrava um cão à planta e atirava-lhe um pedaço de carne um pouco além do seu alcance. O cão corria e caía morto. Mas a mandrágora estava arrancada. Uma colheita tão perigosa merecia uma grande retribuição. Mas que importância tinha, já que a mandrágora reembolsava largamente seu comprador. Bastava fechá-la num cofre para que ela dobrasse o número de moedas que ele continha”.

Embora a mandragora officinarum L. tenha sido descrita como originária da Península Ibérica, "os últimos estudos taxonómicos apontam que na Península Ibérica todas as plantas de mandrágora pertencem à espécie Mandragora autummalis" [mandrágora mediterrânica], realça Rubim Almeida. Existe, assim, uma única espécie de mandrágora em Portugal.
Atualmente, apesar de estas plantas terem sido muito usadas a nível medicinal, não há conhecimento, segundo o docente, de nenhum medicamento feito a partir delas. 


Pedro Caldeira Cabral, «La Batalla» & «Ai flores de verde pino»

D. Dinis I (?-1325), o Rei-Agricultor/Trovador

- Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo;
aquel que mentiu do que pôs conmigo?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?

- Vós me perguntades polo voss'amigo
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Dues, e u é?

- E eu bem vos digo que é san'e vivo
e será vosco ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?

- E eu bem vos digo que é viv'e sano
e será vosc[o] ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?

Jordi Savall, «Folias Criollas»

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A beleza oculta da polinização

Abelhas e flores comunicam por campos elétricos


As abelhas e as flores comunicam através de campos elétricos, revela um estudo da Universidade de Bristol, no Reino Unido, publicado na revista 'Science'.

Segundo o artigo da equipa chefiada por Daniel Robert, os métodos de comunicação das flores são pelo menos tão sofisticados com os de uma agência de publicidade, utilizando as cores, os padrões e o cheiro para atrair os seus polinizadores.
Agora, os cientistas descobriram que a estas formas de comunicação se junta uma outra: a emissão de sinais elétricos, semelhantes a um sinal de néon, que permitem às abelhas distingui-los de outros campos e encontrar as reservas de pólen e néctar.
Os investigadores explicam que as plantas têm normalmente uma carga negativa e emitem campos elétricos fracos. As abelhas, por seu lado, adquirem uma carga positiva de até 200 volts à medida que voam no ar.
Embora não haja qualquer descarga elétrica quando uma abelha se aproxima de uma flor, surge um pequeno campo elétrico que potencialmente transmite informação.
Ao colocar elétrodos em Petunias, os investigadores demonstraram que quando uma abelha (Bombus terrestris) aterra, o potencial elétrico da flor muda e permanece assim durante vários minutos.
"Poderá isto ser uma maneira de a flor dizer às abelhas que uma outra abelha a visitou recentemente", questionam os cientistas, que concluíram que as abelhas conseguem detetar e distinguir dois campos elétricos distintos.
Os cientistas não sabem ainda de que forma as abelhas detetam os campos elétricos, mas admitem que os seus pelos possam reagir da mesma forma que o cabelo das pessoas reage à eletricidade estática de um ecrã de televisão antigo.
"Este novo canal de comunicação revela como as flores podem potencialmente informar os seus polinizadores sobre o verdadeiro estado das suas reservas de néctar e pólen", disse Heather Whitney, coautora do estudo.
E Daniel Robert explicou: "a última coisa que uma flor quer é atrair uma abelha e depois não conseguir fornecer-lhe néctar. É uma lição de publicidade honesta, já que as abelhas são boas aprendizes e rapidamente perderiam o interesse de uma flor tão pouco remuneradora".
"A coevolução entre as flores e as abelhas tem tido uma história longa e benéfica, por isso talvez não seja inteiramente surpreendente que estejamos ainda hoje a descobrir quão sofisticada é a sua comunicação", acrescentou.

Retirado daqui

Natureza morta VII

Pedro Lucena, 'Birds and tree'

Living The Good Life with Helen and Scott Nearing

Verónica-das-neves

Veronica nevadensis

Natureza morta VI

Catarina Bessell, 'Daphne Loureiro'

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

E.F. Schumacher

E.F. Schumacher on Appropriate Technology - Q&A - 1977 from New Economics Institute on Vimeo.

Dente-de-leão

Taraxacum officinalis

OS DENTES DE LEÃO

Os dentes de leão
adoram trincar
minúsculos grãos de pólen

Jorge Sousa Braga, Balas de Pólen, Quasi Edições, 2001, p. 16

José Sebag (1936-1990)

o herbário sou eu voluntário das guerras
a coronha na cara suicida na reserva
o herbário sou eu como um rio triste
ou um país que nova praga infeste
o herbário sou eu a chuva que não veio
o hortelão que jura que a terra é que não presta
a metáfora intrometida de permeio
o herbário sou eu passo a passo vidrado
passo a passo no asfalto espelhado
o herbário sou eu sozinho como todos
os que fazem ou são tamanha multidão
compradores por vício a rodos
tanto o dinheiro chegue tanto não
o herbário sou eu castigado inocente
a morte decorrente desta vida de cão
o herbário sou eu voluntário das guerras
perdidas como quase sempre todas são
bárbaro reflectido austero depravado
o herbário o herbário o herbário
seco nas folhas mas na raiz não

José Sebag, Cão, até Setembro, IAC, 1991, p. 37

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Henri Cartier-Bresson

Brie, France, Juin 1968

Bico-de-pomba

Geranimum columbinum

Herberto Helder

Os campos estão cobertos de erva e, no meio, vibram na aragem aguda algumas hastes de cevada. Principia a ordenação abstracta das cores - violentas, delicadas - no cheiro estreme da maresia e da areia que já aquece. O céu levanta-se como um animal. A terra pensa em cima do labirinto de água salgada. E a primavera sobe, fortalece-se, ganha precisão. A cevada amadurece depressa na exaltante transparência do espaço, agitada leve leve pela aragem.
Na atmosfera nítida, cuja a intrínseca violência se dissimula, nascem repentinas fontes de júbilo. Desenvolve-se furiosamente no coração um extremo pensamento de perenidade, tão novo e exclusivo que a carne verga ao seu peso. Aspira ambiguamente ao aniquilamento obscuro, rápido, total. Uma colina branca resplandece tão veemente que parece ter levantado voo.

Herberto Helder, Photomaton & Vox, Assírio & Alvim, 1987, p. 15-16

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Tim Jackson

Notre Poison quotidien

Jorge Sousa Braga

 Biologia Vegetal, p. 437
Raízes

Quem me dera ter raízes,
que me prendessem ao chão
Que não me deixassem dar
um passo que fosse em vão.

Que me deixassem crescer
silencioso e erecto,
como um pinheiro de riga,
uma faia ou um abeto.

Quem me dera ter raízes,
raízes em vez de pés.
Como o lódão, o aloendro,
o ácer e o aloés.

Sentir a copa vergar,
quando passasse um tufão.
E ficar agarrado,
pelas raízes, ao chão.


sábado, 16 de fevereiro de 2013

Maria Gabriela Llansol (1931-2008)

Passo IX

Entre Tudo
a morte de Prunus Triloba

quando Sebastião ouviu (dizer) «Sou eu, Úrsula», saiu pela porta dos incógnitos, e tornou-se arbusto com as árvores; uma das três árvores era Prunus Triloba:
durante alguns momentos, Triloba teve uma mente de homem; certo dia, estando Spinoza a escrever, sentiu no flanco uma espécie de penetração de um gume e uma angústia que veio a tornar-se numa ciência de intuições vivas e claras.
Ignorou a razão dessa manifestação dolorosa, e nunca chegou a saber que a sua mente estivera a meditar com o abater de uma árvore.
Prunus Triloba tem uma mente de árvore e uma sombra tremente de indícios; fechada no seu espaço, procura os insectos no texto, no colo de Úrsula, nas paredes que são de terra branca; Spinoza tem por hábito deixar-se ficar no tronco, e suscita à volta uma claridade sem limites

Maria Gabriela Llansol, Causa Amante, Regra do Jogo, 1984, p. 63

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

José Pacheco Pereira: A TV RURAL E A FELICIDADE PELA AGRICULTURA

A TV RURAL  E A FELICIDADE PELA AGRICULTURA


Talvez poucas coisas sejam mais simbólicas do pensamento do poder dos nossos dias, se é que se pode chamar pensamento “àquilo”, é a proposta vinda da maioria da Assembleia, PSD e CDS, mais uns PS que são iguaizinhos, de “sugerir” à RTP produzir um remake da TV Rural do engenheiro Sousa Veloso. É um puro condensado de tudo o que está mal na elite do poder dos nossos dias, em versão mesquinha e ridícula e gritante. O gritante tem uma vantagem. 
Esta proposta revela tudo: ignorância em geral, falta de mundo, falta de vida fora da politiquice, ignorância do que deve ser a relação do poder político com a televisão (mas conhecimento, mostrado á revelia da vontade, do que é o “serviço público”); ignorância do que é a televisão em 2013; ignorância do que é a agricultura, ignorância do que são hoje os agricultores, ignorância do agro, da terra, da lavoura, do campo, de Portugal. Para eles o campo é tão mítico como uma personagem do Harry Potter, para usar uma comparação mitológica que devem conhecer e deixar-me de Grécia, Roma e a Bíblia, que não conhecem de todo. 
Que o ministério da lavoura precise de um espaço de propaganda entende-se. Que haja quem precise no âmbito dessa mesma propaganda do poder, de acreditar que há uma multidão de jovens desempregados que se volta para a agricultura, sem crédito para comprar as terras, sem crédito para comprar sementes e adubos e acima de tudo sem ter a mínima noção do que é fazer uma empresa agrícola em 2013, e ainda menos do que é o trabalho na terra, entende-se. Que haja quem pense que ainda se pode ir para a televisão insistir nos tratamentos para o míldio e o oídio, como fazia e bem o bom do engenheiro Veloso, ou recitar o Borda de Água e os seus bons conselho quanto ao que se deve plantar em Fevereiro, entende-se. Quem tenha uma vaga ideia do que era o piquenicão e pensa que este ainda pode sobreviver às festas dos supermercados, entende-se também. No fundo, tudo se pode entender, mas tudo ao mesmo tempo, poupem-nos. 
José Pacheco Pereira, in abrupto

Punk Economics 7: The Global Food Economy

Banksy


Massive Attack - Butterfly Caught

Michael Pollan: In Defense of Food

New era of food scarcity echoes collapsed civilizations


The world is in transition from an era of food abundance to one of scarcity. Over the last decade, world grain reserves have fallen by one third. World food prices have more than doubled, triggering a worldwide land rush and ushering in a new geopolitics of food. Food is the new oil. Land is the new gold.
This new era is one of rising food prices and spreading hunger. On the demand side of the food equation, population growth, rising affluence, and the conversion of food into fuel for cars are combining to raise consumption by record amounts. On the supply side, extreme soil erosion, growing water shortages, and the earth’s rising temperature are making it more difficult to expand production. Unless we can reverse such trends, food prices will continue to rise and hunger will continue to spread, eventually bringing down our social system. Can we reverse these trends in time? Or is food the weak link in our early twenty-first-century civilization, much as it was in so many of the earlier civilizations whose archeological sites we now study?

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Tom Waits - Green Grass

Nicole Foss

The Myth of Human Progress

Clive Hamilton in his “Requiem for a Species: Why We Resist the Truth About Climate Change” describes a dark relief that comes from accepting that “catastrophic climate change is virtually certain.” This obliteration of “false hopes,” he says, requires an intellectual knowledge and an emotional knowledge. The first is attainable. The second, because it means that those we love, including our children, are almost certainly doomed to insecurity, misery and suffering within a few decades, if not a few years, is much harder to acquire. To emotionally accept impending disaster, to attain the gut-level understanding that the power elite will not respond rationally to the devastation of the ecosystem, is as difficult to accept as our own mortality. The most daunting existential struggle of our time is to ingest this awful truth—intellectually and emotionally—and continue to resist the forces that are destroying us.
The human species, led by white Europeans and Euro-Americans, has been on a 500-year-long planetwide rampage of conquering, plundering, looting, exploiting and polluting the Earth—as well as killing the indigenous communities that stood in the way. But the game is up. The technical and scientific forces that created a life of unparalleled luxury—as well as unrivaled military and economic power—for the industrial elites are the forces that now doom us. The mania for ceaseless economic expansion and exploitation has become a curse, a death sentence. But even as our economic and environmental systems unravel, after the hottest year in the contiguous 48 states since record keeping began 107 years ago, we lack the emotional and intellectual creativity to shut down the engine of global capitalism. We have bound ourselves to a doomsday machine that grinds forward, as the draft report of the National Climate Assessment and Development Advisory Committee illustrates.

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Jean-Arthur Rimbaud (1854-1891)

SULCOS

À direita a aurora de verão desperta as folhas e os vapores e os ruídos deste lado do parque e à esquerda os taludes guardam na sua sombra violeta os mil rápidos sulcos da estrada húmida. Desfile de maravilhas. Com efeito: carros carregados de animais de talha dourada, de mastros e de telas sarapintadas, ao grande galope de vinte cavalos de circo malhados, e homens e crianças sobre as suas alimárias mais espantosas; - vinte veículos
corcundas, empavezados e floridos como caleches de lenda ou de conto de fadas, repletos de crianças ataviadas para uma pastoral suburbana; - até caixões, com os seus dosséis nocturnos alçando os penachos de ébano ao trote de grandes éguas negras e azuis.

Rimbaud, Iluminações Uma Cerveja no Inferno, Assírio & Alvim, 2007, p. 49

ROA

Los Angeles