Manuscrito de Dioscórides |
A
mandrágora, planta que tem várias espécies (...),
pertence à família botânica Solanaceae, é conhecida na história de
várias civilizações por diversos nomes. A sua nomeclatura foi evoluindo
ao longo dos anos, até que o nome científico que conhecemos hoje – Mandragora officinarum L. – foi dado pelo botânico sueco Carl von Linné (em Português, Carlos Lineu), que criou a chamada nomenclatura binomial.
O
nome mais abrangente desta planta, de acordo com o trabalho de Carla
Lixa, provém do inglês, “mandrake”, ou seja, por um lado homem, devido à
raiz que parece ter uma forma humana, por outro o “drake”, derivado de
dragão, que faz alusão aos poderes mágicos.
Mandrágora e os efeitos alucinógenios
Acreditava-se
que a mandrágora tinha poderes mágicos, tendo sido associada muitas
vezes a rituais de bruxaria, e que servia como tratamento, por exemplo,
para a infertilidade. Ao longo de vários séculos, autores clássicos,
como Sócrates, Demóstenes, Macróbio e Teodoreto, escreveram sobre as
propriedades soníferas e anestésicas desta planta.
A
mandrágora foi considerada por várias civilizações como tendo
propriedades medicinais, narcóticas e afrodisíacas, segundo nos conta
Carla Lixa. A doutoranda revela ainda que hoje em dia existem vários
estudos que fundamentam a presença de elementos químicos – alcaloídes – que concedem propriedades alucinogénias à mandragora officinarum L. De
acordo com Rubim Almeida, docente de Biologia da Faculdade de Ciências
da Universidade do Porto, consultado pelo Ciência 2.0, todas as
mandrágoras "contêm alcaloídes (atropina, escopolamina, etc) que
provocam delírios e outros efeitos hipnóticos e depressivos que podem
causar muitos outros sintomas como bradicardia, delírios, vómitos e
morte".
“De
certo modo a mandrágora começa a surgir como uma planta associada a
tratamentos. Antigamente, transpunha-se a forma da planta para aquilo
que ela tratava, se tinha a forma de rim, tratava os rins, como a
mandrágora era a planta que tinha uma raiz de forma humana, então
achavam que curava tudo”, explica Carla Lixa.
“A planta lançava um grito que enlouquecia aquele que o ouvisse”
Teofrasto,
filósofo grego que escreveu o primeiro tratado sobre plantas, contou,
no livro "Enquiry Into Plants II" a história da lenda das mandrágoras
que passamos a citar: “O herborista só o poderia fazer à noite.
Primeiro, teria de se inclinar em direção do sol poente e homenagear as
divindades infernais, isto é, as forças telúricas. O produtor deveria
desenhar três círculos ao redor da planta com a sua espada de ferro
virgem. Então, de frente para o oeste para evitar feitiços, ele deveria
cortar porções das raízes secundárias. Em seguida, não deveria proceder
pessoalmente à colheita pois, no momento em que era arrancada, a planta
lançava um grito que matava ou enlouquecia aquele que o ouvisse. Por
isso, depois de ter cuidadosamente tapado os ouvidos com cera, o
herborista amarrava um cão à planta e atirava-lhe um pedaço de carne um
pouco além do seu alcance. O cão corria e caía morto. Mas a mandrágora
estava arrancada. Uma colheita tão perigosa merecia uma grande
retribuição. Mas que importância tinha, já que a mandrágora reembolsava
largamente seu comprador. Bastava fechá-la num cofre para que ela
dobrasse o número de moedas que ele continha”.
Embora a mandragora officinarum L.
tenha sido descrita como originária da Península Ibérica, "os últimos
estudos taxonómicos apontam que na Península Ibérica todas as plantas de
mandrágora pertencem à espécie Mandragora autummalis" [mandrágora mediterrânica], realça Rubim Almeida. Existe, assim, uma única espécie de mandrágora em Portugal.
Atualmente,
apesar de estas plantas terem sido muito usadas a nível medicinal, não
há conhecimento, segundo o docente, de nenhum medicamento feito a partir
delas.
Sem comentários:
Enviar um comentário