quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

ética ambiental

 
“Olam, 2274 DC
Imagine que pertence à tripulação de uma nave espacial que aterrou num planeta desconhecido denominado Olam. Durante muito tempo será impossível deixar o planeta. Rapidamente se descobre que grande parte do planeta Olam tem um clima temperado e que existem muitos locais adequados para construção de habitações e outras ocupações (extracção de minerais, agricultura, etc.), embora todos esses locais estejam, como é claro, ocupados por ecossistemas e espécies Olamianas.
Olam tem um número elevado de espécies. O número exacto ou mesmo a sua ordem de magnitude não é fácil de determinar. A maioria dos habitantes é constituída por pequenos seres unicelulares, como se pode constatar pela medição da biomassa. Estes seres vivem por todo o lado, desde a alta atmosfera até aos intestinos de alguns animais e no interior das rochas. A segunda maior espécie, com vários milhões de elementos, é um animal parecido com a abelha. Outras espécies vão desde o microscópico (um milímetro, ou menos) até ao enorme (existem várias espécies terrestres quadrúpedes), com três metros de altura e sete de comprimento, e existem criaturas marinhas que podem ter até 30 metros de comprimento.
Em Olam também existem espécies inteligentes. Existem organismos marítimos de diferentes tipos, como a criatura tentacular que tem emoções complexas (varia de cor consoante as emoções) e, aparentemente, uma alta capacidade para resolver problemas. Alguns dos nossos cientistas estabeleceram contacto com vários membros de espécies marinhas de grandes barbatanas e com cérebros que poderão ser até seis vezes maiores do que o dos humanos. Esses animais produzem padrões sonoros complexos e parece que algumas dessas “canções” (com um comprimento de 100 milhões de bites – tantos quantos os da Odisseia – cantados em apenas meia hora) são transmitidas, através dos oceanos, para todo planeta. Contudo, não conseguimos dominar a sua linguagem, nem eles a nossa. Nem sequer sabemos se é possível traduzir essas canções.
Existem espécies bípedes e quadrúpedes que exibem comportamentos sociais avançados (amor, fidelidade, padrões de interacção complexos). Alguns membros da tripulação adoptaram alguns desses indivíduos como animais de estimação (…). Existem animais que são vagamente humanóides; possuem uma linguagem rudimentar e regras complexas de vida em grupo. Estas criaturas sendo, de uma forma perturbadora, muito semelhantes a nós, não poderão ser animais de estimação, ou se calhar simplesmente não o tolerariam. Todavia, têm-se revelado amigáveis e inteligentes.
Existem também vastas comunidades de pequenos organismos contendo, em muitos casos, milhões de indivíduos, que parecem trabalhar juntos como se fossem uma unidade singular. Existe desacordo entre os cientistas sobre qual é o verdadeiro “organismo”: a criatura individual parecida com um insecto ou toda a “colmeia”. De qualquer modo, parece que em Olam a inteligência pode manifestar-se de diferentes formas. Alguns cientistas até especulam sobre a possibilidade de toda a vida funcionar com uma unidade singular, preservando as condições para a vida continuar a existir.
Isto é apenas uma pequena amostra das espécies olamianas. Algumas dessas espécies consomem a comida umas das outras. Muitas outras espécies comem plantas, árvores, e até pedras. Os humanos poderiam sobreviver e prosperar consumindo animais, plantas, ou ambos. Alguns animais olamianos também poderiam viver alimentando-se de humanos.
A tripulação, à medida que se apercebe da sua situação, pergunta-se qual a melhor forma de se relacionar com Olam. Haverá limites morais para as suas acções? Deverão ter em conta apenas o seu bem, ou será que o bem de algumas das espécies, ecossistemas ou mesmo do planeta como um todo, deverá também ser tido em conta? À medida que vão discutindo o assunto, cinco posições são apresentadas:
A: O poder faz o dever. Devemos usar tudo o que for preciso. As considerações morais aqui não se aplicam. Azar deles, sorte a nossa. Provavelmente Deus assim quis.
B: A moralidade aplica-se apenas a nós humanos. A moralidade só chegou a Olam connosco. Devemos contudo tomar algumas precauções para não destruir o planeta, poupando-o para nós e para as gerações futuras. Devemos manter o nosso consumo controlado para podermos ser felizes no futuro. E também não fazia mal tentar compreender o planeta Olam um pouco melhor. Se ele é realmente semelhante ao Planeta Terra, então é um lugar incrivelmente complexo com muitas surpresas escondidas.
C: Devemos preocupar-nos com Olam e com as suas espécies. Talvez sejamos a espécie mais importante aqui mas as outras espécies também têm algumas reivindicações a fazer. Elas são antigas, belas, misteriosas: este planeta é maior do que nós ainda que nós, agora que estamos aqui, estejamos no centro da moralidade.
D: Somos apenas uma espécie entre outras. Bem entendido, todas as espécies estão nos seus próprios “centros”. Não há nada de especial em nós – ou melhor, todos são especiais. Devemos, por isso, fazer tudo para integrar a grande comunidade da vida em Olam. Devemos estabelecer limites à nossa colonização e devemos tentar reduzir os danos causados pela nossa instalação. Devemos também fazer um maior esforço para estabelecer contacto com as formas de vida inteligente existentes em Olam.
E: Não temos direito nenhum de estar aqui. Somos alienígenas invasores num mundo que está completo sem nós e que não nos quer. Devemos, para o caso de alguém encontrar os destroços da nossa nave, deixar um registo escrito que explique o que estamos a fazer e depois devemos cometer suicídio colectivo (de uma forma ecologicamente responsável, é claro).
Qual das posições lhe parece ser a mais razoável? Porquê? Perante as outras, como defenderia a sua posição?
De que forma a sua posição perante esse problema hipotético é um reflexo da sua relação com os problemas ambientais do planeta Terra? Defende as mesmas soluções para os nossos problemas ambientais? De que forma relaciona as suas ideias ambientais com as suas práticas diárias?”
(Traduzido e adaptado por LFB a partir de Weston,  A 21ST Century Ethical Tollbox, Oxford, 2001.)

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