“Olam, 2274 DC
Imagine que pertence à tripulação
de uma nave espacial que aterrou num planeta desconhecido denominado Olam.
Durante muito tempo será impossível deixar o planeta. Rapidamente se descobre
que grande parte do planeta Olam tem um clima temperado e que existem muitos
locais adequados para construção de habitações e outras ocupações (extracção de
minerais, agricultura, etc.), embora todos esses locais estejam, como é claro,
ocupados por ecossistemas e espécies Olamianas.
Olam tem um número elevado de
espécies. O número exacto ou mesmo a sua ordem de magnitude não é fácil de
determinar. A maioria dos habitantes é constituída por pequenos seres
unicelulares, como se pode constatar pela medição da biomassa. Estes seres
vivem por todo o lado, desde a alta atmosfera até aos intestinos de alguns
animais e no interior das rochas. A segunda maior espécie, com vários milhões
de elementos, é um animal parecido com a abelha. Outras espécies vão desde o
microscópico (um milímetro, ou menos) até ao enorme (existem várias espécies
terrestres quadrúpedes), com três metros de altura e sete de comprimento, e
existem criaturas marinhas que podem ter até 30 metros de comprimento.
Em Olam também existem espécies
inteligentes. Existem organismos marítimos de diferentes tipos, como a criatura
tentacular que tem emoções complexas (varia de cor consoante as emoções) e,
aparentemente, uma alta capacidade para resolver problemas. Alguns dos nossos
cientistas estabeleceram contacto com vários membros de espécies marinhas de grandes
barbatanas e com cérebros que poderão ser até seis vezes maiores do que o dos
humanos. Esses animais produzem padrões sonoros complexos e parece que algumas
dessas “canções” (com um comprimento de 100 milhões de bites – tantos quantos
os da Odisseia – cantados em apenas
meia hora) são transmitidas, através dos oceanos, para todo planeta. Contudo,
não conseguimos dominar a sua linguagem, nem eles a nossa. Nem sequer sabemos
se é possível traduzir essas canções.
Existem espécies bípedes e
quadrúpedes que exibem comportamentos sociais avançados (amor, fidelidade,
padrões de interacção complexos). Alguns membros da tripulação adoptaram alguns
desses indivíduos como animais de estimação (…). Existem animais que são
vagamente humanóides; possuem uma linguagem rudimentar e regras complexas de
vida em grupo. Estas criaturas sendo, de uma forma perturbadora, muito
semelhantes a nós, não poderão ser animais de estimação, ou se calhar
simplesmente não o tolerariam. Todavia, têm-se revelado amigáveis e inteligentes.
Existem também vastas comunidades
de pequenos organismos contendo, em muitos casos, milhões de indivíduos, que
parecem trabalhar juntos como se fossem uma unidade singular. Existe desacordo
entre os cientistas sobre qual é o verdadeiro “organismo”: a criatura
individual parecida com um insecto ou toda a “colmeia”. De qualquer modo,
parece que em Olam a inteligência pode manifestar-se de diferentes formas.
Alguns cientistas até especulam sobre a possibilidade de toda a vida funcionar com uma unidade singular, preservando as
condições para a vida continuar a existir.
Isto é apenas uma pequena amostra
das espécies olamianas. Algumas dessas espécies consomem a comida umas das
outras. Muitas outras espécies comem plantas, árvores, e até pedras. Os humanos
poderiam sobreviver e prosperar consumindo animais, plantas, ou ambos. Alguns
animais olamianos também poderiam viver alimentando-se de humanos.
A tripulação, à medida que se
apercebe da sua situação, pergunta-se qual a melhor forma de se relacionar com
Olam. Haverá limites morais para as suas acções? Deverão ter em conta apenas o
seu bem, ou será que o bem de algumas das espécies, ecossistemas ou mesmo do
planeta como um todo, deverá também ser tido em conta? À medida que vão
discutindo o assunto, cinco posições são apresentadas:
A: O poder faz o dever. Devemos
usar tudo o que for preciso. As considerações morais aqui não se aplicam. Azar
deles, sorte a nossa. Provavelmente Deus assim quis.
B: A moralidade aplica-se apenas
a nós humanos. A moralidade só chegou a Olam connosco. Devemos contudo tomar
algumas precauções para não destruir o planeta, poupando-o para nós e para as
gerações futuras. Devemos manter o nosso consumo controlado para podermos ser
felizes no futuro. E também não fazia mal tentar compreender o planeta Olam um
pouco melhor. Se ele é realmente semelhante ao Planeta Terra, então é um lugar
incrivelmente complexo com muitas surpresas escondidas.
C: Devemos preocupar-nos com Olam
e com as suas espécies. Talvez sejamos a espécie mais importante aqui mas as
outras espécies também têm algumas reivindicações a fazer. Elas são antigas,
belas, misteriosas: este planeta é maior do que nós ainda que nós, agora que
estamos aqui, estejamos no centro da moralidade.
D: Somos apenas uma espécie entre
outras. Bem entendido, todas as espécies estão nos seus próprios “centros”. Não
há nada de especial em nós – ou melhor, todos são especiais. Devemos, por isso,
fazer tudo para integrar a grande comunidade da vida em Olam. Devemos
estabelecer limites à nossa colonização e devemos tentar reduzir os danos
causados pela nossa instalação. Devemos também fazer um maior esforço para
estabelecer contacto com as formas de vida inteligente existentes em Olam.
E: Não temos direito nenhum de
estar aqui. Somos alienígenas invasores num mundo que está completo sem nós e
que não nos quer. Devemos, para o caso de alguém encontrar os destroços da
nossa nave, deixar um registo escrito que explique o que estamos a fazer e
depois devemos cometer suicídio colectivo (de uma forma ecologicamente
responsável, é claro).
Qual das posições lhe parece ser a mais razoável? Porquê? Perante as
outras, como defenderia a sua posição?
De que forma a sua posição perante esse problema hipotético é um
reflexo da sua relação com os problemas ambientais do planeta Terra? Defende
as mesmas soluções para os nossos problemas ambientais? De que forma relaciona
as suas ideias ambientais com as suas práticas diárias?”
(Traduzido e adaptado por LFB a partir
de Weston, A 21ST Century Ethical Tollbox, Oxford, 2001.)
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