quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

«O caminho faz-se caminhando»


Wisława Szymborska (1923-2012)

Cebola

A cebola é outra coisa.
Planta sem intimidade.
Retintamente cebola
à última cebolidade.
Acebolada por fora,
cebulona no tutano,
poderia entrar em si
sem se causar qualquer dano.

Em nós selva e estranhamento,
que uma pele mal sustenta
o nosso inferno uterino,
anatomia violenta,
e, na cebola, cebola,
um lisíssimo intestino.
Ela muitas vezes nua,
até ao miolo mais fino.

Cebola ser sem contrários,
cebola bem sucedida,
na maior a mais pequena,
uma na outra metida,
e na seguinte outra ainda,
uma quarta e uma quinta.
Fuga em espiral para o centro,
eco no coro à medida.

Cebola eu bem te compreendo,
mais belo ventre do mundo,
tu própria em tuas auréolas
do teu sucesso profundo.
Em nós gorduras e nervos,
mucos, veias e recessos,
e ao kitsch do ser perfeito
é-nos vedado o acesso.

Wisława Szymborska, Paisagem com Grão de Areia, Relógio D'Água, 1998, pp. 179, 181

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Jorge Sousa Braga

ARMÁRIO DE ESPECIARIAS E ERVAS AROMÁTICAS

Cerefólio manjerona
malagueta benjoim
noz-moscada cardamomo
salsa sândalo alecrim

erva-doce piripiri
cravinho canela em pau
gengibre menta tomilho
pimpinela colorau

mostarda pó de chili
salva cominhos pimenta
basílico salsifri

zimbro funcho açafrão
orégãos coentros caril
azedas louro estragão

«Parsley, Sage, Rosemary and Thyme» (1966) Simon and Garfunkel

«From Gardens Where We Feel Secure» (1983), Virginia Astley

Eran Riklis


William Blake (1757-1827)


31
Resposta da TERRA

A Terra ergueu a cabeça,
Do fundo da escura treva.
Sem grão de luz:
Horror de pedra!
Seus cabelos, de tormento, brancos.

«Presa da margem das águas,
O zelo estrelado guarda a minha tenda.
Frio e rouco
Chorando as mágoas
Escuto o Pai dos homens de outrora.

Pai dos homens ruim!
Medo cruel, ciumento, egoísta!
Como há-de o prazer,
Acorrentado na noite,
Dar à luz a manhã virginal?

Oculta a primavera os ardores
Quando despontam rebentos e flores?
Quem semeia,
Semeia de noite?
E quem lavra, lavra no escuro?

Quebra este elo apertado,
Que deixa o corpo gelado.
Egoísta! Vã!
Eterna ruína! Que o livre Amor acorrenta.»

William Blake, Cantigas da Inocência e da Experiência, Antígona, 2007

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Natureza morta III

Juan van der Hamen y León (1596-1631)

Pequena entrevista a Richard Heinberg

Excerto de uma entrevista a Richard Heinberg (in wordpress.richardheinberg.com) realizada por um aluno do secundário, Rhian Moore, para o jornal da escola:

«Rhian: Acredita que haja aspectos positivos que prolonguem a existência da indústria agrícola? E relativamente aos aspectos negativos, quais são as suas piores consequências?

Richard: Há duas vantagens significativas na indústria agrícola moderna: (1) produz uma enorme quantidade de alimentos, relativamente baratos; e (2) é muito lucrativa para as empresas de sementes, químicos, fertilizantes e equipamentos, e para os produtores em grande escala.
Os aspectos negativos: (1) destrói o solo e a biodiversidade; (2) facilita o esvaziamento dos recursos não renováveis como o petróleo; (3) contribui para as mudanças climáticas, através do uso dos combustiveis fósseis, a desflorestação e a des-carbonização do solo; (4) a comida industrial é muitas vezes pobre em nutrientes (especialmente se for altamente processada), favorecendo o aparecimento de problemas de obesidade e de doenças degenerativas; (5) a agricultura industrial tende a favorecer os produtores de grande escala, levando à pobreza os milhões de pequenos produtores dedicados à agricultura de subsistência.

Rhian - Diz que, para darmos pequenos passos em direcção à resolução do problema, precisamos de envolver um maior número de pessoas no processo de produção alimentar. Como é que a re-ruralização pode ajudar?

Richard: Dado o encarecimento do petróleo e a redução do consumo de combustível fóssil, no sentido de evitar a catástrofe das mudanças climáticas, teremos de re-localizar os nossos sistemas de produção alimentar e de crescer mais organicamente. Precisaremos também de mais produtores, porque habitualmente usamos o petróleo para substituir a mão-de-obra agrícola. Com um maior número de pessoas envolvido na produção de alimentos, mais pessoas terão uma interacção diária com o clima, o solo e a biodiversidade; o que resultará numa maior atenção ao ambiente. Produziremos menos alimentos, mas conseguiremos uma alimentação mais rica e a nossa saúde sairá a ganhar com a prática de mais exercício físico e melhor alimentação.»

tradução (apressadamente livre) da minha autoria


«DON'T WORRY, DRIVE ON»

Richard Heinberg

Natureza morta II

 Charles Norbert, melancholia, 1910

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sophia, outra vez!

AS PESSOAS SENSÍVEIS

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinha

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
Porque cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
Assim nos foi imposto
E não:
«Com o suor dos outros ganharás o pão»

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheiros de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética II, Caminho, 1991, p. 147

Peter Singer

O SEXO DA ÉTICA

 [Segundo Rousseau, no Emílio] «(...) A demanda do abstracto e da verdade especulativa, de princípios e axiomas da ciência, de tudo o que tende para a generalização vasta, está para além da compreensão da mulher». Hegel assumiu uma posição semelhante: o julgamento ético da mulher limitava-se à vida ética rotineira do lar e da família; o mundo dos negócios, da sociedade civil e do reino mais abstracto da moral universal estava circunscrito aos homens. Freud transportou esta tradição até ao século XX, afirmando que as mulheres «revelam menos sentido de justiça do que os homens» e «são mais vezes influenciadas nos seus juízos por sentimentos de afecto ou hostilidade».
Desde que Mary Wollstonecraft escreveu a sua obra pioneira A Vindication of the Rights of Woman em 1792, existe uma linha de pensamento feminista que defende veemente, contra Rousseau e aqueles que pensam nos seus moldes, que não existem virtudes distintamente femininas ou masculinas: a ética é universal. Contudo, houve uma linha diversa de pensamento feminista que ganhou projecção nos tempos da luta pelo voto das mulheres. Ao advogar o direito de voto para as mulheres, algumas feministas afirmaram que as mulheres têm uma abordagem distinta de muitas questões éticas e políticas e é precisamente por essa razão que a sua influência deveria ser sentida mais fortemente na política. Segundo rezava o argumento, seriam a ambição e a agressão masculinas as responsáveis pelos desmandos da guerra, com todo o sofrimento que provocavam.. Ao contrário, as mulheres eram mais cuidadosas e atenciosas. Em Women and Labour, publicado em 1911, Olive Shreiner sugeria que, tendo vivido a gravidez, o parto e a educação dos filhos, as mulheres encarariam a «perda» de vida na guerra de modo diferente dos homens. 
Tais opiniões tornaram-se impopulares nos anos 70, durante o ressurgimento do movimento feminista moderno, quando qualquer conversa acerca de diferenças psicológicas naturais ou inatas entre os sexos era ideologicamente suspeita. Contudo, mais recentemente, algumas feministas reabilitaram a ideia de que as mulheres entendem a ética de modo diverso do homem.(...)
[Nel Noddings afirma] que as mulheres tendem menos do que os homens a ver a ética em termos de regras e princípios abstractos. As mulheres, crê Noddings, têm mais tendência a responder directamente a situações específicas com base numa atitude de atenção. Para as mulheres, as relações em que estão envolvidas são centrais para a sua percepção da situação. A certa altura, Noddings desenvolve esta visão numa crítica ao meu argumento de que deveríamos ampliar o princípio moral básico da consideração igual de interesses a todos os seres que têm interesses, ou seja, a todas as criaturas sencientes. Na perspectiva de Noddings, este é um exemplo de uma atitude masculina abstracta e típica, relativamente à ética. A abordagem feminina que ela perfilha não nos levaria a ter deveres para todos os animais, mas para com animais específicos, como animais de companhia, com os quais mantemos algum tipo de relação.(...)
Há outras feministas que adoptam uma posição diferente. Alison Jaggar, por exemplo, afirmou que a «ética feminista» não precisa de ser «ética feminina»; recusa igualmente o determinismo biológico, observando que nem todas as mulheres são feministas, ao passo que alguns homens o são. De qualquer modo, no que toca à forma como cada um vive, as mulheres não limitam as suas preocupações éticas àqueles com quem mantêm relações de algum tipo. Pelo contrário, há provas de que as mulheres, a terem alguma diferença, são mais universais do que os homens na sua preocupação ética e mostram-se mais prontas a considerar uma visão de longo prazo. O popular ambientalista e comunicador canadiano David Suzuki comenta, no seu livro Inventing the Future, que, diz-lhe a sua experiência, «as mulheres estão representadas de forma desproporcionada no movimento ambientalista». O mesmo se aplica ao movimento de libertação animal. Desde o século XIX e até aos nossos dias, as mulheres ultrapassam claramente em número os homens nos grupos que vêm tentando impedir a exploração animal. (...)
Suzuki explica o grande número de mulheres no movimento ambientalista através da referência ao facto das mulheres terem sido excluídas de grande parte da estrutura de poder na nossa sociedade e, portanto, terem menos em jogo que os homens no statu quo. Isto significa, pensa Suzuki, que elas conseguem ver para lá dos nossos mitos sociais com maior clareza do que os homens. Pode haver alguma razão nisto, mas para se estar envolvido no movimento ambientalista também é necessário ter uma preocupação pelo bem-estar de longo prazo do planeta e das espécies que nele vivem. De modo semelhante, as pessoas são atraídas para o movimento de libertação animal em grande parte porque se preocupam com o sofrimento dos animais. É possível que, em termos gerais, as mulheres se preocupem mais com o sofrimento dos outros? Serão elas, porventura, o sexo mais ético? Todas as generalizações deste tipo terão certamente excepções e devem ser tratadas com cautela, mas suspeito de que exista alguma verdade nesta. 

Peter Singer, Como Devemos Viver? A Ética numa Época de Individualismo, Dinalivro, 2006, p. 310-317

E Sophia!

ESTEIRA E CESTO

No entrançar de cestos ou de esteira
Há um saber que vive e não desterra
Como se o tecedor a si próprio se tecesse
E não entrançasse unicamente esteira e cesto

Mas seu humano casamento com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética III, Caminho, 1996, p. 208

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Natureza Morta

Eugène Atget (1857-1927)

E tomai lá mais uma do O'Neill!

NATUREZA MORTA

Da fruteira
não direi os frutos.

Que lá fiquem,
cerosos,
esferas (ou discos) para a luz funâmbula,
que não os esfaqueia
no quadro

Alexandre O'Neill, Poesias Completas, Assírio & Alvim, 2000, p. 321

A Perspectiva das Coisas. A Natureza-morta na Europa 1840 - 1955

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Jorge de Sena (1919-1978)


SABEDORIA DE CALÍGULA

Mandei-o descascar batatas,
respondeu-me que os astros auguravam bom tempo.
Decididamente era verdade
que o imperador fizera o seu cavalo cônsul.

1954.

Richard Heinberg


domingo, 20 de janeiro de 2013

Sylvia Plath (1932-1963)


COLHENDO AMORAS

(...)

Para além de uma curva, as bagas e os arbustos acabam.
A única coisa que vem a seguir é o mar.
De entre duas colinas sopra contra mim um vento súbito,
sacudindo como fantasmas a sua roupa branca contra o meu rosto.
Estas colinas são demasiado verdes e suaves para terem saboreado o sal.
Sigo, entre elas, a vereda aberta pelas ovelhas. Uma última curva leva-me
até à face norte das colinas, e a face é uma rocha alaranjada
que olha para nada, nada a não ser uma grande extensão
de luzes brancas e cor de estanho e um ruído como o de um ourives
batendo sempre um metal rebelde.

Sylvia Plath, Pela Água, Assírio & Alvim, 1990, pp. 63, 65

sábado, 19 de janeiro de 2013

«As quatro voltas» (2010) de Michelangelo Frammartino

«Super Size Me» (2004) de Morgan Spurlock

Jonh Seymour (1914-2004)


Dorothea Lange (1895-1965)

'Migrante Mexicana', Santa Clara Valley, California, 1938
                                                                     

Contradições ambientalistas


Luís Filipe Bettencourt, in O Germe
(texto publicado no jornal da Gê-Questa- Associação da defesa do ambiente, primavera de 2011)


Quando reflectimos sobre o pensamento ecológico - quer seja nas políticas ou nas acções ambientalistas - encontramos contradições de diversa ordem. Gostamos de alguns animais e comemos outros, essa é a contradição mais óbvia. Mas há outras: somos  todos ambientalistas/ecologistas mas não fazemos nada, ou fazemos muito pouco, para alterar a criação intensiva de animais (no mundo civilizado são 450 biliões de animais todos os anos, alimentados com rações geneticamente modificadas e com antibióticos à mistura, com mobilidade restrita e criados em ambientes doentios). Somos contra os transgénicos mas alimentamos os nossos animais com rações transgénicas (da próxima vez que comprar rações feitas nos Açores verifique o rótulo). Gostamos de gatos, mas quando são mortos nas estradas nada fazemos - nas estradas açorianas não há um único sinal de informação sobre o perigo de atropelamento de animais, domésticos ou não, que atravessam as estradas. Como ecologistas, defendemos os touros, mas comemos as vacas. Temos campanhas públicas anuais de protecção do cagarro, mas permitimos pacificamente a morte de ouriços-cacheiros nas estradas. Alguém sabe qual desses animais é o mais desprotegido e ameaçado? O ouriço não parece estar em extinção, mas está muito mais presente na nossa vida, enquanto animal morto, do que o cagarro. Olhemos um pouco para o caso do ouriço-cacheiro[1]. Apesar de, na Grã-Bretanha, estar entre os animais de jardim preferidos, a sua população está a cair abruptamente. Decresceu para metade nos últimos 15 anos e, a continuar assim, em 2030 não haverá ouriços-cacheiros ingleses. Apenas 1 em cada 100 chega aos cinco anos, e 15000 são esmagados todos os anos nas estradas britânicas. Mesmo os bem-intencionados podem contribuir para a morte dos ouriços se, quando encontram um no seu pátio, lhes dá pão e leite o que lhes pode provocar uma diarreia mortal. A melhor forma de ajudar um ouriço é soltá-lo na horta: um só ouriço consegue comer até 250 lesmas numa noite! O seu nome – cacheiro – sugere aquele que dissimula ou engana, mas que animal terá capacidade para enganar um automóvel? Não deveria este animal ser - pelo menos com tanto empenho quanto o cagarro - também defendido através de campanhas públicas?

Um exemplo mais geral. É a ciência quem deve dizer aos políticos o estado do ambiente. A nível mundial essa é uma tarefa do PIAC - painel intergovernamental para as alterações climáticas que, em 2007, conjuntamente com Al Gore, ganhou o Nobel da paz. Mas o que se viu no caso climategate - onde dados que falsificavam as conclusões e previsões catastrofistas do painel foram ignorados e afastados - foi a política a dizer à ciência como é que o ambiente deve estar. Isto não significa que o planeta esteja, ao contrário do que afirmam os cientistas (os mais e os menos éticos), bem. O planeta está mal e existem factos inegáveis. O número de espécies em vias de extinção ou já desaparecidas é assustador. Os tigres, por exemplo, estão em vias de extinção. E é custoso imaginar um mundo sem tigres. O problema é que alguns cientistas também estão mal e descredibilizam a ciência ao ponto de lançarem a dúvida sobre se a ecologia não será também uma farsa. Como mostrou o caso climategate, a ecologia tem sido aproveitada politicamente, o que significa uma prevalência da fantasia/aparência sobre a real motivação para mudar o mundo. Um das razões para explicar isso pode ser porque “há cada vez mais e mais cientistas a quererem ser políticos”[2].

Um terceiro e último caso, talvez o mais flagrante, é o da alimentação. Existem muitas razões para uma pessoa mudar os seus hábitos alimentares (éticas, religiosas, estéticas). Vejamos uma razão que tem sido pouco explorada que é a ecológica ou ambiental. Todos sabemos dos problemas ambientais do nosso planeta. Mas qual o contributo da alimentação carnívora para esses problemas? Que sentido é que faz ser ecológico e não ser vegetariano? Quando se questiona as pessoas sobre qual a causa do aquecimento global, todos referem a poluição, mas poucos falam na produção de carne[3]. Mas a verdade é que 18 % da poluição total é causada pelos efeitos da criação intensiva de animais (metano e tudo o resto: impacto na água e na biodiversidade; proliferação de vírus...) De todos os cereais produzidos, 40 a 50% são comidos por animais, 75 % no caso da soja. São precisos 7 quilos de grão (milho e soja) para fazer um quilo de carne. E para isso são precisos campos e para ter campos é preciso desflorestar. É por isso que a floresta da Amazónia está a desaparecer. Num ano uma vaca produz tantos gases com efeito de estufa quanto um carro que viaje 70.000 km – mais de uma volta e meia ao planeta terra. Para produzir carne são precisas 10 vezes mais terra do que para produzir vegetais. À medida que as populações aumentam, aumenta também o consumo de carne. Por consequência, aumentam também as emissões de gases com efeito de estufa. Um europeu come, em média, durante a sua vida, 1800 animais. Calcule-se o efeito, se todas as pessoas no mundo fizessem o mesmo. As florestas estão a desaparecer; a biodiversidade, a água, tudo isto é posto em causa pela produção animal. Um vegetariano num jipe produz menos emissões de carbono do que um carnívoro num carro híbrido (mais um sinal do politicamente correcto, mas ecologicamente ineficaz). Se tudo isso é verdade, porque não se fala mais da relação entre o aquecimento global do planeta e a produção intensiva de animais? Por que não é a criação intensiva de animais mencionada uma única vez no filme “uma verdade inconveniente” de Al Gore? Talvez porque ele é também um produtor de carne e estaria, de forma silenciosa, a proteger a poderosa indústria de produção de carne norte-americana. Outro interessante envolvimento entre política e ecologia.

Mas não precisam os seres humanos de comer carne e de beber leite? A resposta inequívoca é não[4]. A ideia de que precisamos de comer carne e leite todos os dias é gerada, em grande parte, pela propaganda. Reduzir o consumo de produtos animais não nos fará grande mal, pelo contrário, poderá até reduzir algumas doenças mortais. Quando é que vamos começar a fazer as contas aqui nos Açores, onde a produção de carne (aves, porcos e vacas) em ambientes fechados começa a ser significativa? E por que não há alimentação vegetariana nas eco-escolas? A resposta está em parte na desinformação. Comemos o que nos dão, sem nos preocuparmos muito com os efeitos desastrosos da alimentação. O pensamento ecológico dominante parece mais uma questão de ser politicamente correcto, de marcar a diferença seguindo a moda ecologista, do que a afirmação de uma real preocupação com o planeta em geral e com os animais em particular. Se queremos manifestar alguma coerência entre as nossas crenças ecológicas e as nossas atitudes então deveremos comer menos carne. Individualmente deveremos fazer um esforço para, pelo menos em algumas refeições semanais, encontrar uma alternativa vegetariana. Em termos colectivos, as instituições públicas têm uma grande responsabilidade e uma forma de se mostrarem empenhadas em apresentar soluções seria, por exemplo, instituir um dia por semana de comida vegetariana nas escolas, nos lares de idosos, nos hospitais, etc. Por último, uma boa dose de pensamento céptico e crítico talvez nos possa impedir de embarcar em euforias ecológicas não fundamentadas.



[1] As informações sobre o ouriço foram retiradas de Lloyd e Mitchinson, O Livro da Ignorância sobre o Mundo Animal, Casa das Letras, 2010, pp.145-146.
[2] Der Spiegel, edição online, acedida em 14 Abril 2010.
[3] Muitas das informações a seguir apresentadas foram retiradas do filme “MEAT THE TRUTH - Uma Verdade Mais Que Inconveniente.
[4] Sobre a mudança para uma dieta vegetariana vale a pena ler o livro de Jonathan Safran Foer, Comer Animais, Bertrand, 2011.

 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Hugo Santos

NONA CARTA PARA UM DEUS AUSENTE

da terra vou sabendo o nome inteiro
dos ritos que antecedem a colheita
podar os ventos, recolher as chuvas,
armazenar as maduras cerejas do granizo.
com as névoas recubro a mancha verde
das oliveiras do pátio.
os tordos retornaram
catam o vento
talvez de seu exílio falem,
pelo alfabeto dos longes se relêem.
entre o desejo e a sombra se confundem.
lavrador de silêncios
o coração hesita.
outra colheita o demanda;
pega a terra, nela lança
a úbere semente de mais naves.
pacientemente, sei, esperará
que o tempo recolha em seu celeiro
o fruto mais maduro que lhe couber.

do trigo lembro o verde. o ouro depois.
a emoção compondo o linho sobre a mesa.
solidários, os gestos se repetem.
à cabeceira, tu.
ao centro o pão mais alvo. o vinho.
há palavras que sobre as coisas pairam,
as possuem.
o grande coração da casa aí flui.
como omitir seus signos?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Anton Mauve (1838-1888)

'In the vegetable garden' (1887)

Richard Heinberg

Nicole Foss

Ana Hatherly



TISANAS
 

28. A civilização consiste em aprendermos a fazer naturalmente tudo o que não
é natural. É daí que vem a ideia de angelismo porque o animal em nós consente tudo. Só de vez em quando é que sentimos uma estranha melancolia e sacudindo uma mosca dizemos apetecia-me tanto ir para o campo. 








Van Gogh & Millet

«A Caminho do Trabalho»

Ainda Alexandre O'Neill!

A história da moral

Você tem-me cavalgado 
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.

Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.

The Story of Your Enslavement

Fernando Pessoa (1888-1935)

O BURRO E AS DUAS MARGENS

É costume contar-se às crianças, quando começam a estar em idade de começar a ser estúpidas, uma história a propósito de um burro que chega à margem de um rio e não consegue passar para a outra margem.
O rio não tem ponte, o burro não sabe nadar, não há barco que o transporte. O que faz o burro? Depois de algum tempo de pensar, a criança diz que desiste. E então a pessoa adulta, que lhe pôs  a adivinha, diz: O mesmo fez o burro. O que devia dizer era: És como o burro, porque assim é que a graça tem graça, se é que a tem.
Mas a história não se passou assim, e foi o burro mesmo que ma contou. O burro chegou à margem do rio, e queria passar para a outra margem. Verificou, efectivamente, e nesse particular a história é verídica como se narra, que (a) não havia ponte, (b) não havia barco,  (c) ele, burro, não sabia nadar.
Então o burro pensou: O que faria um homem no meu caso? E, depois de pensar, pensou: Desistia. Pois bem, decidiu: Sou como o homem.
Porque, nesta adivinha, ninguém pensou numa coisa: é que o homem desistia também.

Moralidade: A política partidária é a arte de dizer a mesma coisa de duas maneiras diferentes. O melhor é dizer em segundo lugar, porque como é o homem que faz a adivinha, adiante vai o burro. 

Fernando Pessoa, Contos Completos, Antígona, 2012, p.105

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

«Man» de Steve Cutts

Emanuel Jorge Botelho

no cimo de uma árvore,
o cimo da montanha.
quando um pássaro

a noite guarda a luz
para o silêncio,
a coruja vela

só a asa afaga o rosto do vento,
só o cisne não magoa o dorso da água

cada árvore é a mãe
do primeiro voo

uma pena quieta dentro do vento,
uma rosa do céu

a aurora dentro de uma asa,
a manhã descendo pelo vento

Emanuel Jorge Botelho, 21 Haiku Com Asas, Galeria 111, 2008, p. 13-15

«Introduction to Permaculture» (1991) de Bill Mollison

INTRODUÇÃO

Permacultura é um sistema de desenho para a criação de meios ambientes humanos sustentáveis. A palavra em si mesma resulta da contracção não só de agricultura permanente mas também de cultura permanente, pois as culturas não podem sobreviver por muito tempo sem uma base agrícola sustentável e uma ética do uso da terra. A um determinado nível, a permacultura ocupa-se das plantas, dos animais, das construções e das infraestruturas (água, energia, comunicações). No entanto, a permacultura não se ocupa apenas destes elementos em si mesmos, mas das relações que podemos criar entre eles de forma a integrá-los na paisagem. O propósito é criar sistemas que sejam ecologicamente apropriados e economicamente viáveis, que provenham às suas próprias necessidades, não explorem ou contaminem e que sejam sustentáveis a longo prazo. A permacultura utiliza as qualidades inerentes das plantas e dos animais combinadas com as características naturais da paisagem e as estruturas para produzir um sistema que suporte a vida da cidade e do campo, utilizando a menor área possível.
A permacultura baseia-se na observação dos sistemas naturais, na sabedoria dos sistemas tradicionais das hortas e no conhecimento científico e tecnológico moderno. (...)
Fukuoka, no seu livro A Revolução De Uma Palha, estabeleceu talvez da melhor maneira a filosofia da permacultura. De maneira breve, esta é a filosofia de trabalhar com a natureza, mais do que contra ela; é a filosofia da observação prolixa e meditativa mais do que do trabalho prolixo e pensativo, e da observação das plantas e dos animais em todas as suas funções mais do que do tratamento de elementos como se fossem produtos particulares de um sistema. Num meio mais mundano, falei em praticar aikido com a terra, de rodar com os seus golpes, convertendo a adversidade em força e usar tudo de maneira positiva. A outra aproximação refere-se a praticar karate com a terra, para a fazer render pelo uso da nossa força e dos duros golpes que sobre ela desferimos. Mas se atacarmos a natureza (e ultimamente destruimo-la), estamos a atacarmo-nos a nós próprios.
Penso que a harmonia com a natureza só é possível se abandonarmos a nossa ideia de superioridade sobre o mundo natural. Lévi Strauss disse que o nosso maior erro é o de nos vermos sempre como os «senhores da criação». Não somos superiores a outras formas de vida, todas as coisas viventes são uma expressão da vida em si mesma. Se podermos reconhecer esta verdade, poderemos ver que tudo o que fazemos às outras formas de vida fazemo-lo a nós mesmos. (...)

ÉTICA DA PERMACULTURA

A ética da permacultura orienta-se pelas crenças e acções morais que garantem a sobrevivência do nosso planeta. Na permacultura abraçamos uma ética tripartida: o cuidado da terra, o cuidado das pessoas e da distribuição do tempo excedente, dinheiro e materiais para esses fins.
O cuidado da terra: significa cuidar de todas as coisas viventes e não viventes: solos, toda a variedade de espécies, atmosfera, bosques, microhabitats, animais e águas. Isto implica a realização de actividades inofensivas e reabilitadoras, a conservação activa, o uso ético e frugal dos recursos e a subsistência correcta (trabalhando para sistemas utéis e benéficos).
O cuidado da terra também implica o cuidado das pessoas de maneira a que as nossas necessidades básicas de alimentação, habitação, trabalho gratificante e convivência social sejam levadas em linha de conta. O cuidado das pessoas é importante pois, apesar de sermos uma pequena parte dos sistemas totais de vida, temos um decisivo impacto sobre eles. Se podermos satisfazer as nossas necessidades básicas, não necessitamos de desenvolver práticas destrutivas em grande escala contra a terra.
O terceiro componente da ética básica do "cuidado da terra" é a contribuição do tempo, dinheiro e energia excedentes para conseguir os objectivos traçados pelo cuidado das pessoas e da terra. Isto significa que depois de termos provido às nossas necessidades básicas e desenhado os sistemas o melhor possível, podemos influenciar os outros ajudando-os a alcançar os mesmos objectivos.
Os sistemas de permacultura também têm uma ética básica de vida que reconhece o valor intrínseco de cada coisa vivente. Uma árvore é algo que tem valor em si mesma, ainda que sem valor comercial. O que é importante é que está viva e activa. A árvore desempenha a sua função na natureza: reciclando biomassa, fornecendo oxigénio e dióxido de carbono para a região, dando abrigo aos animais mais pequenos, etc, etc.
A ética da permacultura ocupa-se de todos os aspectos dos sistemas ambientais, comunitários e económicos. A chave é a cooperação, não a competição.

tradução (apressada) da minha autoria, a partir da edição em castelhano

domingo, 13 de janeiro de 2013

Alexandre O'Neill (1924-1986)

LEGO

Está tudo conformado
ao triste proprietário.
Mecânicas ovelhas,
na erva de plástico,
têm pastor de pilhas
e cão pré-fabricado.
Flores marginam esse
às peças-soltas prado.
Eléctricas abelhas,
obreiras sem contrato,
daquele herbário extraem
um mel supermercado.
A malhada, no estábulo,
quase manga de alpaca
(é A VACA, sabias?),
dá leite engarrafado.
No céu (para colorir)
a nuvem, pontual,
aguarda a vez de ser
chovida no nabal,
enquanto o Sol dardeja
na eira proverbial.
Já tudo afeiçoado
ao bom proprietário
(ervas, bichos, moral)
ele conta com os seus
e espera sempre em Deus.

(«- Deste corda ao pardal?»)

Alexandre O'Neill, Poesias Completas, Assírio & Alvim, 2000, p. 343

So how did we get into this mess?

Matsuo Bashô (1644-1694)


A lua da montanha
ilumina também
os ladrões de flores

Se hei-de morrer
no caminho,
que seja no campo dos trevos

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Jiro Taniguchi, «O homem que caminha» (1990-1991)


Béla Tarr, «O Cavalo de Turim» (2012)




O ponto de partida do filme é aquela anedota nietszcheana que se ouve no início. De onde é que ela vem? Ou por outra, como é que ela gera a inspiração para um filme? 

 Na verdade, a ideia germinava desde 1985. Nesse ano assisti a uma conferência de Laszlo Krasznahorkai [escritor, e argumentista de Tarr] em que ele contava a história. E no fim, alguém perguntava: "e o que aconteceu ao cavalo?". Entre nós, repetimos muitas vezes a pergunta ao longo dos anos: "o que aconteceu ao cavalo?" [risos].

 O cavalo é o primeiro protagonista. Aquele plano-sequência de abertura é espantoso, coloca logo o filme sob o signo do esforço físico, do cansaço... 

Verdade. Conhece aquele livro que fala da insustentável leveza do ser... O meu filme é o contrário, fala do insustentável peso do ser...
(...)

 Os actores vêm de outros filmes seus. Mas o cavalo [Ricsi], como fez o casting do cavalo?

 Fomos a um mercado de animais e descobrimos este, que tinha ar de não querer trabalhar. Podia ser o cavalo da história de Nietzsche. Percebemos que era o nosso cavalo.
 (...)

 Que citação do Godard é que tem ali na parede, em húngaro?

 "Van Gogh inventou o amarelo quando queria pintar e já não havia sol".


excerto de uma entrevista a Béla Tarr por L. M. Oliveira, in «ípsilon», 15 Junho 2012

René Crevel (1900-1935)

Irmãs Brontë, desde o nascimento até à morte só conhecestes a realidade dos vossos sonhos impetuosos. E vede como as vossas vidas, libertas de toda a anedota, passado quase um século se ampliam até chegar ao símbolo.
O cão de Emily conduz o bando dos vossos papagaios de papel, sim, papagaios que já não são metafóricos e voam de verdade, a sério, entre as nuvens onde o menino vê galopar o leão, o lobo, a gazela. (...)
Com olhos fechados perseguis as espirais em pleno céu, os arcos de vertigem de um a outro astro, que a lançarem no chão quotidiano o mais fraco dos seus reflexos, teriam deixado cegas as outras criaturas.
Trovão e vento, as Brontë respeitam a flora e a fauna em turbilhão que os seus sonhos alimentam.
Não colhem nenhuma flor, não arrancam nenhuma pena para o seu trajo.
Sabem quantos sacrilégios haveria em vaidades tão mesquinhas.
Não têm nada de modistas.
Além do mais, todos os troféus, de pendurar ao longo das paredes, bem depressa passam a fancaria.

René Crevel, As Irmãs Brontë Filhas do Vento, Assírio & Alvim, 2005, p. 31-32

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)

 
Gingko Biloba

A folha desta árvore que de Leste
Ao meu jardim se veio afeiçoar,
Dá-nos o gosto de um sentido oculto
Capaz de um sábio edificar.

Será um ser vivo apenas
Em si mesmo em dois partido?
Serão dois que se elegeram
E nós julgamos num unidos?

Para responder às perguntas
tenho o sentido real:
Não vês por meus cantos como
Sou uno e duplo, afinal?

Is Sustainable Agriculture an Oxymoron?

 Toby Hemenway, in Our Finite World

Jared Diamond calls it “the worst mistake in the history of the human race.”(1) Bill Mollison says that it can “destroy whole landscapes.”(2) Are they describing nuclear energy? Suburbia? Coal mining? No. They are talking about agriculture. The problem is not simply that farming in its current industrial manifestation is destroying topsoil and biodiversity. Agriculture in any form is inherently unsustainable. At its doorstep can also be laid the basis of our culture’s split between humans and nature, much disease and poor health, and the origins of dominator hierarchies and the police state. Those are big claims, so let’s explore them.
Permaculture, although it encompasses many disciplines, orbits most fundamentally around food. Anthropologists, too, agree that food defines culture more than our two other physical needs of shelter and reproduction. A single home-building stint provides a place to live for decades. A brief sexual encounter can result in children. But food must be gotten every day, usually several times a day. Until very recently, all human beings spent much of their time obtaining food, and the different ways of doing that drove cultures down very divergent paths.
Anthropologist Yehudi Cohen (3) and many subsequent scholars break human cultures into five categories based on how they get food. These five are foragers (or hunter-gatherers), horticulturists, agriculturists, pastoralists, and industrial cultures. Knowing which category a people falls into allows you to predict many attributes of that group. For example, foragers tend to be animist/pantheist, living in a world rich with spirit and in which all beings and many objects are ascribed a status equal to their own in value and meaning. Foragers live in small bands and tribes. Some foragers may be better than others at certain skills, like tool making or medicine, but almost none have exclusive specialties and everyone helps gather food. Though there may be chiefs and shamans, hierarchies are nearly flat and all members have access to the leaders. A skirmish causing two or three deaths is a major war. Most of a forager’s calories come from meat or fish, supplemented with fruit, nuts, and some wild grain and tubers.(4) It’s rare that a forager will overexploit his environment, as the linkage is so tight that destruction of a resource one season means starvation the next. Populations tend to peak at low numbers and stabilize.

The First Growth Economy
Agriculturists, in contrast, worship gods whose message usually is that humans are chosen beings holding dominion, or at least stewardship, over creation. This human/nature divide makes ecological degradation not only inevitable but a sign of progress.
While the forager mainstays of meat and wild food rot quickly, domesticated grain, a hallmark innovation of agriculture, allows storage, hoarding, and surplus. Food growing also evens out the seasonal shortages that keep forager populations low.
Having fields to tend and surpluses to store encouraged early farming peoples to stay in one place. Grain also needs processing, and as equipment for threshing and winnowing grew complex and large, the trend toward sedentism accelerated.(5)
Grains provide more calories, or energy, per weight than lean meat. Meat protein is easily transformed into body structure—one reason why foragers tend to be taller than farmers—but turning protein into energy exacts a high metabolic cost and is inefficient.(6) Starches and sugars, the main components of plants, are much more easily converted into calories than protein, and calories are the main limiting factor in reproduction. A shift from meat-based to carbohydrate-based calories means that given equal amounts of protein, a group getting its calories mostly from plants will reproduce much faster than one getting its calories from meat. It’s one reason farming cultures have higher birth rates than foragers.
Also, farming loosens the linkage between ecological damage and food supply. If foragers decimate the local antelope herd, it means starvation and a low birth rate for the hunters. If the hunters move or die off, the antelope herd will rebound quickly. But when a forest is cleared for crops, the loss of biodiversity translates into more food for people. Soil begins to deplete immediately but that won’t be noticed for many years. When the soil is finally ruined, which is the fate of nearly all agricultural soils, it will stunt ecological recovery for decades. But while the soil is steadily eroding, crops will support a growing village.
All these factors—storable food, surplus, calories from carbohydrates, and slow feedback from degrading ecosystems—lead inevitably to rising populations in farming cultures. It’s no coincidence, then, that farmers are also conquerors. A growing population needs more land. Depleted farmland forces a population to take over virgin soil. In comparison, forager cultures are usually very site specific: they know the habits of particular species and have a culture built around a certain place. They rarely conquer new lands, as new terrain and its different species would alter the culture’s knowledge, stories, and traditions. But expansion is built into agricultural societies. Wheat and other grains can grow almost anywhere, so farming, compared to foraging, requires less of a sense of place.
Even if we note these structural problems with agriculture, the shift from foraging at first glance seems worth it because—so we are taught—agriculture allows us the leisure to develop art, scholarship, and all the other luxuries of a sophisticated culture. This myth still persists even though for 40 years anthropologists have compiled clear evidence to the contrary. A skilled gatherer can amass enough wild maize in three and a half hours to feed herself for ten days. One hour of labor can yield a kilogram of wild einkorn wheat.(7) Foragers have plenty of leisure for non-survival pleasures. The art in the caves at Altamira and Lascaux, and other early examples are proof that agriculture is not necessary for a complex culture to develop. In fact, forager cultures are far more diverse in their arts, religions, and technologies than agrarian cultures, which tend to be fairly similar.(3) And as we know, industrial society allows the least diversity of all, not tolerating any but a single global culture.

(Continuar a ler aqui)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Arseni & Andrei Tarkovsky




CRESCE A névoa da vista - esse poder,
Duas luras em diamantes invisíveis;
Surdo pela tempestade de outrora
E o bafo da casa de meu pai;
Nós cegos numa trança de músculos
Como bois velhos no campo arado;
E na noite não brilham mais
As asas do meu dorso.


Arseni Tarkovsky, 8 ícones, Assírio & Alvim, 1987, 
 p.47

Andrei Tarkovsky Polaroid

domingo, 6 de janeiro de 2013

Masanobu Fukuoka

Daniel Faria (1971-1999)

Dos campos que cultivei duas sementes restaram
O centro
Da pedra e as mãos

Dentro da segunda cultivei a hora de afastar-me
(Não havia ninguém a quem dizer
Já vou)

Dentro da solidão os espantalhos (não lhes fora dada
A companhia dos pássaros)

Abri os braços como as vides nos bardos
Hora após hora (e depois delas) te esperei


Daniel Faria, Poesia, Quasi Edições, 2003, p. 289