terça-feira, 15 de janeiro de 2013

«Introduction to Permaculture» (1991) de Bill Mollison

INTRODUÇÃO

Permacultura é um sistema de desenho para a criação de meios ambientes humanos sustentáveis. A palavra em si mesma resulta da contracção não só de agricultura permanente mas também de cultura permanente, pois as culturas não podem sobreviver por muito tempo sem uma base agrícola sustentável e uma ética do uso da terra. A um determinado nível, a permacultura ocupa-se das plantas, dos animais, das construções e das infraestruturas (água, energia, comunicações). No entanto, a permacultura não se ocupa apenas destes elementos em si mesmos, mas das relações que podemos criar entre eles de forma a integrá-los na paisagem. O propósito é criar sistemas que sejam ecologicamente apropriados e economicamente viáveis, que provenham às suas próprias necessidades, não explorem ou contaminem e que sejam sustentáveis a longo prazo. A permacultura utiliza as qualidades inerentes das plantas e dos animais combinadas com as características naturais da paisagem e as estruturas para produzir um sistema que suporte a vida da cidade e do campo, utilizando a menor área possível.
A permacultura baseia-se na observação dos sistemas naturais, na sabedoria dos sistemas tradicionais das hortas e no conhecimento científico e tecnológico moderno. (...)
Fukuoka, no seu livro A Revolução De Uma Palha, estabeleceu talvez da melhor maneira a filosofia da permacultura. De maneira breve, esta é a filosofia de trabalhar com a natureza, mais do que contra ela; é a filosofia da observação prolixa e meditativa mais do que do trabalho prolixo e pensativo, e da observação das plantas e dos animais em todas as suas funções mais do que do tratamento de elementos como se fossem produtos particulares de um sistema. Num meio mais mundano, falei em praticar aikido com a terra, de rodar com os seus golpes, convertendo a adversidade em força e usar tudo de maneira positiva. A outra aproximação refere-se a praticar karate com a terra, para a fazer render pelo uso da nossa força e dos duros golpes que sobre ela desferimos. Mas se atacarmos a natureza (e ultimamente destruimo-la), estamos a atacarmo-nos a nós próprios.
Penso que a harmonia com a natureza só é possível se abandonarmos a nossa ideia de superioridade sobre o mundo natural. Lévi Strauss disse que o nosso maior erro é o de nos vermos sempre como os «senhores da criação». Não somos superiores a outras formas de vida, todas as coisas viventes são uma expressão da vida em si mesma. Se podermos reconhecer esta verdade, poderemos ver que tudo o que fazemos às outras formas de vida fazemo-lo a nós mesmos. (...)

ÉTICA DA PERMACULTURA

A ética da permacultura orienta-se pelas crenças e acções morais que garantem a sobrevivência do nosso planeta. Na permacultura abraçamos uma ética tripartida: o cuidado da terra, o cuidado das pessoas e da distribuição do tempo excedente, dinheiro e materiais para esses fins.
O cuidado da terra: significa cuidar de todas as coisas viventes e não viventes: solos, toda a variedade de espécies, atmosfera, bosques, microhabitats, animais e águas. Isto implica a realização de actividades inofensivas e reabilitadoras, a conservação activa, o uso ético e frugal dos recursos e a subsistência correcta (trabalhando para sistemas utéis e benéficos).
O cuidado da terra também implica o cuidado das pessoas de maneira a que as nossas necessidades básicas de alimentação, habitação, trabalho gratificante e convivência social sejam levadas em linha de conta. O cuidado das pessoas é importante pois, apesar de sermos uma pequena parte dos sistemas totais de vida, temos um decisivo impacto sobre eles. Se podermos satisfazer as nossas necessidades básicas, não necessitamos de desenvolver práticas destrutivas em grande escala contra a terra.
O terceiro componente da ética básica do "cuidado da terra" é a contribuição do tempo, dinheiro e energia excedentes para conseguir os objectivos traçados pelo cuidado das pessoas e da terra. Isto significa que depois de termos provido às nossas necessidades básicas e desenhado os sistemas o melhor possível, podemos influenciar os outros ajudando-os a alcançar os mesmos objectivos.
Os sistemas de permacultura também têm uma ética básica de vida que reconhece o valor intrínseco de cada coisa vivente. Uma árvore é algo que tem valor em si mesma, ainda que sem valor comercial. O que é importante é que está viva e activa. A árvore desempenha a sua função na natureza: reciclando biomassa, fornecendo oxigénio e dióxido de carbono para a região, dando abrigo aos animais mais pequenos, etc, etc.
A ética da permacultura ocupa-se de todos os aspectos dos sistemas ambientais, comunitários e económicos. A chave é a cooperação, não a competição.

tradução (apressada) da minha autoria, a partir da edição em castelhano

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