sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

René Crevel (1900-1935)

Irmãs Brontë, desde o nascimento até à morte só conhecestes a realidade dos vossos sonhos impetuosos. E vede como as vossas vidas, libertas de toda a anedota, passado quase um século se ampliam até chegar ao símbolo.
O cão de Emily conduz o bando dos vossos papagaios de papel, sim, papagaios que já não são metafóricos e voam de verdade, a sério, entre as nuvens onde o menino vê galopar o leão, o lobo, a gazela. (...)
Com olhos fechados perseguis as espirais em pleno céu, os arcos de vertigem de um a outro astro, que a lançarem no chão quotidiano o mais fraco dos seus reflexos, teriam deixado cegas as outras criaturas.
Trovão e vento, as Brontë respeitam a flora e a fauna em turbilhão que os seus sonhos alimentam.
Não colhem nenhuma flor, não arrancam nenhuma pena para o seu trajo.
Sabem quantos sacrilégios haveria em vaidades tão mesquinhas.
Não têm nada de modistas.
Além do mais, todos os troféus, de pendurar ao longo das paredes, bem depressa passam a fancaria.

René Crevel, As Irmãs Brontë Filhas do Vento, Assírio & Alvim, 2005, p. 31-32

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