sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Hugo Santos

NONA CARTA PARA UM DEUS AUSENTE

da terra vou sabendo o nome inteiro
dos ritos que antecedem a colheita
podar os ventos, recolher as chuvas,
armazenar as maduras cerejas do granizo.
com as névoas recubro a mancha verde
das oliveiras do pátio.
os tordos retornaram
catam o vento
talvez de seu exílio falem,
pelo alfabeto dos longes se relêem.
entre o desejo e a sombra se confundem.
lavrador de silêncios
o coração hesita.
outra colheita o demanda;
pega a terra, nela lança
a úbere semente de mais naves.
pacientemente, sei, esperará
que o tempo recolha em seu celeiro
o fruto mais maduro que lhe couber.

do trigo lembro o verde. o ouro depois.
a emoção compondo o linho sobre a mesa.
solidários, os gestos se repetem.
à cabeceira, tu.
ao centro o pão mais alvo. o vinho.
há palavras que sobre as coisas pairam,
as possuem.
o grande coração da casa aí flui.
como omitir seus signos?

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