sexta-feira, 11 de abril de 2014

Agustina Bessa-Luís

OS JARDINS

Os jardins foram e serão a alma das cidades. E também de quem mora nelas. São lugares que prendem o coração às virtudes domésticas, porque nos jardins a criança brinca, os jovens namoram e os velhos descansam. São tudo períodos em que as recordações se reúnem e se povoam doutras recordações. Jardins históricos, jardins de passagem, outros com tristezas como asas suspensas na luz do meio-dia. Quem não teve um jardim, público ou privado, na sua infância, será um doente das suas próprias memórias. Há-de tossir com o frio desgarrado que não foi filtrado por nenhum plátano ou tília. Terá a cor do ar sombrio, e os olhos da solidão. O jardim é o princípio e o fim, o Éden e o Gethsémani. Os jardins às vezes morrem; mas deixam na terra alguma coisa de santo que as gerações aproveitam dizendo: «Aqui, não sei porquê, sinto-me bem aqui.»

Agustina Bessa-Luís, Caderno de Significados, Guimarães, 2013, pp. 78-79

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