sábado, 20 de abril de 2013

Wenceslau de Moraes (1854-1929)

As florescências, naturalmente, imprimem particulares feitiços, embora efémeros, aos cenários. Em Fevereiro e Março, são as flores de ameixieira que tornam certos sítios aprazíveis. Em Abril, são as flores de pessegueiro, de cerejeira, de colza; Yoshino, Arashiyama, por exemplo, são famosas pelas suas cerejeiras. Seguem-se as flores das glicínias, das azáleas, das íris. Em Julho, são as alvas e as róseas flores de lótus, a emergirem dos charcos, das lagoas; a gente vai ouvir pela madrugada, o estranho - path! - o estalido das pétalas do lótus, no momento em que as corolas desabrocham. Em Novembro, não há flores; mas são as flores de arvoredo que então se coloram de tonalidades brilhantíssimas; as folhas de momiji, em especial, atingem estupendas gradações, que vão do amarelo de ouro ao carmesim, ao rubro esbraseado; em Arashiyama, em Minô, em Takaó, em Shin-Takaó, na alcantilada Arima e em mil outros lugares, a paisagem alcança tons de apoteose, com o qual o povo, em magotes, se deleita. E, no entretanto, o outono é, como dizem os japoneses, inki, melancólico: - a grandeza do dia diminui a olhos vistos, definha-se a vegetação, desnudam-se as árvores, caem as folhas e morrem os insectos; a paisagem estila uma tristeza lutuosa, que infiltra desolações nas almas sensitivas.

Wenceslau de Moraes, Serões no Japão, 1926

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