Uma floresta em Heidelberg não é o que pensam. Não se parece com uma floresta, mas com alguma coisa de extinto e que só pertence aos nossos sonhos. Eu imagino que na planície castelhana, onde viviam as tartarugas gigantes antes do aquecimento da terra, havia aquele silêncio que fazia perceptível a queda duma gota de chuva no ar limpo e onde ondulavam as folhas mortas. Levavam uma infinidade de tempo a cair no chão e eram manobradas pelo vento como as velas dum barco.
A casa de Dominga, um chalet grande e rasgado de muitas janelas, encontrava-se dentro dum pequeno parque sempre húmido e prestes a cair em decomposição. Muitas das casas da floresta estavam encostadas à ravina onde apareciam as corças com ar que lhes ficara do tempo das caçadas, um ar delirante de medo que lhes fazia tremer as orelhas. Mas a casa de Dominga era mais do tipo heráldico, com um portão de ferro que, devido à ferrugem, nunca se fechava.
Agustina Bessa-Luís, Dominga, Guimarães, 2000, pp. 10-11
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