quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ruy Belo (1933-1978)

CANÇÃO DO LAVRADOR

Meus versos lavro-os ao rubro
nesta página de terra
que abro em lábios. Descubro-
-lhe a voz que no fundo encerra

Os versos que faço sou-os
A relha rasga-me a vida
e amarra os sonhos de voos
que eu tinha à terra ferida

Poema que mais que escrevo
devo-te em vida. No húmus
a regos simples eu levo
os meus desvairados rumos

Mas mais que poema meu
(que eu nunca soube palavra)
isto que dispo sou eu
Poeta não escrevas lavra

Ruy Belo, Todos os Poemas, Assírio & Alvim, 2000, p. 48

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