quarta-feira, 13 de março de 2013

«Longos dias têm cem anos»

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)
Se eu tivesse elementos para decidir uma biografia, procedia por encontros imaginários. No cimo do Etna, onde Empédocles perdeu a sandália, era o primeiro. Lá, onde os ventos se cruzam com a respiração das profundidades, eu encontrava a Vieira da Silva, com o seu xaile branco, o olhar penetrante, e dizia-me: «Ah, a Agustina...» E passavam cem anos antes de acrescentar mais palavras. (...)
Também há um sítio bom para encontrar Vieira da Silva: debaixo da magnólia rosa, quando ela floresce, no meu jardim. As pétalas caem e parecem mãos cortadas, como a daquela princesa que prometeu dar a mão a um califa que não amava e lha mandou de presente, como uma magnólia morta.

Agustina Bessa-Luís, Longos Dias Têm Cem Anos - Presença de Vieira da Silva, INCM, 1982, pp. 106, 107

Sem comentários:

Enviar um comentário