domingo, 10 de março de 2013

O Universo: a casca e a amêndoa

Quando o Rei Salomão "penetrou nas profundezas do pomar das nogueiras", como está escrito: "Desci a um pomar de nogueiras" (Cântico dos Cânticos VI, 11), apanhou uma casca de noz e, ao examiná-la, descobriu a analogia entre as suas camadas e os espíritos que suscitam os desejos sensuais dos humanos, como ficou escrito: "E os prazeres dos filhos dos homens (provêm) de demónios machos e fêmeas" (Eclesiastes II, 8).
O Santo, bendito seja Ele, viu que era necessário colocar todas estas coisas no mundo para assegurar a sua permanência; possuir, por assim dizer, um cérebro envolvido em numerosas cascas. Todo o mundo, o de cima e o de baixo, é constituído segundo este princípio, desde o misterioso centro original até às mais longínquas camadas. São todas elas invólucros, uma por uma, cérebro no cérebro, espírito no interior do espírito, casca na casca.
O centro original é a luz mais secreta, de uma diafaneidade, de uma delicadeza, de uma pureza acima de toda a compreensão. Ao expandir-se, este ponto mais íntimo passa a ser um "palácio" que é como que o invólucro do centro, também ele translúcido e resplandecente, para além de toda a possibilidade de conhecimento.
O "palácio", invólucro do ponto interior que não se pode conhecer, e que é em si mesmo uma irradiação que não se conhece, é, no entanto, de uma subtileza e de uma diafaneidade menores do que o ponto original.
O "palácio" espalha-se por todo o seu invólucro, a luz original. E, desse modo, fica camada sobre camada, formando cada uma o invólucro da precedente, como a membrana no cérebro. E cada membrana passa a ser como o cérebro para a camada seguinte.
Igual é o que se passa cá em baixo; do mesmo modelo, o homem neste mundo associa cérebro e membrana, espírito e corpo, para uma melhor ordem do mundo. Quando a Lua estava ligada ao Sol, era luminosa; mas quando se separou do Sol e recebeu a influência das suas próprias legiões, o seu espaço reduziu-se e bem assim a sua luz, e formou-se pele sobre pele para revestir o cérebro - tudo isto para seu bem.

O Zohar - O Livro do Esplendor, Editorial Estampa, 1994, pp. 30, 31


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