quarta-feira, 27 de março de 2013

Wislawa Szymborska

Despedida da paisagem

Não quero mal à Primavera
por ela aí estar de novo.
Não a culpo por,
como em cada ano,
cumprir as suas obrigações.

Compreendo que a minha tristeza
não detém a vegetação.
O cálamo se vacila
é só o vento.

Não me causa dor
que sobre a água os tufos de amieiros
de novo tenham com que ramalhar.

Tomo em consideração
que, como se vivesses ainda,
a margem de certo lago
permaneça linda como foi.

Nada tenho contra
esta vista, à vista
da baía esplendorosa de sol.

Consigo até imaginar
que outros que não nós
se sentem neste momento
no tronco do pinheiro derrubado.

Respeito o seu direito
ao murmúrio, ao riso,
a um silêncio feliz.

(...)

Wislawa Szymborska, Paisagem com Grão de Areia, Relógio D'Água, 1998, p. 305

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