Não quero mal à Primavera
por ela aí estar de novo.
Não a culpo por,
como em cada ano,
cumprir as suas obrigações.
Compreendo que a minha tristeza
não detém a vegetação.
O cálamo se vacila
é só o vento.
Não me causa dor
que sobre a água os tufos de amieiros
de novo tenham com que ramalhar.
Tomo em consideração
que, como se vivesses ainda,
a margem de certo lago
permaneça linda como foi.
Nada tenho contra
esta vista, à vista
da baía esplendorosa de sol.
Consigo até imaginar
que outros que não nós
se sentem neste momento
no tronco do pinheiro derrubado.
Respeito o seu direito
ao murmúrio, ao riso,
a um silêncio feliz.
(...)
Wislawa Szymborska, Paisagem com Grão de Areia, Relógio D'Água, 1998, p. 305
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