domingo, 17 de março de 2013

«Todas as flores entregam suas pétalas àquele chão»

Josefa de Óbidos

À noite, sobre a ilha a toada dos grilos, esses minúsculos corvos de outro mundo animal que nenhum nome deviam ter, acompanhava o meu enterramento noutras imagens em que gostaria de ter a inocência de ser partilhado com cega fé: mulheres e homens atapetando ruas com pétalas de flores. Formam geometrias por caixilhos de madeira, usam-nos como arma de ilusão. Todas as flores entregam suas pétalas àquele chão. Todas as mãos nelas se perfumam. Depois pisá-las-ão as crianças que rezam e os homens com pesados andores de santos berrantes. Por que nos perdemos na dúvida do conhecimento? Por que nos vence mais depressa uma ecografia?

Joaquim Manuel Magalhães, Do Corvo a Santa Maria, Relógio D'Água, 1993, p. 154

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