[CRISE INAUGURAL]
Imagina que eu nunca te toquei
e o campo até ao horizonte possível
explode em violeta e azul, dedos florescem
para as delícias do tacto num vibrátil
orvalho. Imagina
que eu parti e o ar impregnado de mim
queima; ou o horizonte se tornou num duvidoso pousio,
retráctil, sem gosto nem cheiro, apesar de os lagos
a si atraírem o voo predador de fulminantes aves, e o receio
seca a boca. Imagina esse género de pânico:
flores envolvidas ao contrário, tu: solitária, imagina
o Mundo cego. Imagina que me resguardarei
dentro das minhas próprias veias
no esquecimento de tal ausência a brotar
em tons rubros, borbotões sobre ti. O campo,
o campo, o campo, o campo...
(...)
Paulo da Costa Domingos, Judicearias - o álbum das Glórias, frenesi, 2000
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