domingo, 26 de maio de 2013

Ossip Mandelstam (1891-1938)

O corpo me é dado - e com que fim,
Meu corpo único, tão de mim?

Pela alegria chã de respirar,
Silenciosa, a quem devo louvar?

Sou jardineiro e sou flor - cativo
Na prisão do mundo sozinho não vivo.
E já nos vidros da eternidade
Cai meu calor, meu sopro respirado.

Nela se grava um desenho para sempre,
Irreconhecível de tão recente.

Escorra do momento a água turva -
O desenho amado não esbate à chuva.

Ossip Mandelstam, Guarda Minha Fala Para Sempre, Assírio & Alvim, 1996, p. 107

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